IntroduçãoQuando os problemas do poder, da política e do Estado voltaram a ocupar a atenção dos soció-logos marxistas em fins dos anos de 1960, naquilo que pode ser caracterizado como o primeiro levante "institucionalista" contra a revolução comportamentalista e sua continuação culturalista, contra a teoria dos sistemas políticos e as miragens ideológicas do pluralismo liberal, Nicos Poulantzas aproveitou a ocasião para defender a pureza teórica do marxismo teórico. Tanto em Poder políti-co e classes sociais, publicado em 1968, como na polêmica que se seguiu com Ralph Miliband na New Left Review, Poulantzas atacou o despropósito analí-tico, político e ideológico que consistia em trazer para o interior da teoria marxista a problemática das elites políticas (cf. Poulantzas, 1971, vol. II, p. 154ss;1969).Os argumentos que fundamentavam essa recusa eram, em essência, os seguintes: o funcionamento do Estado capitalista deve ser explicado a partir dos vínculos objetivos (e não subjetivos, isto é, interpessoais) existentes entre essa instituição política e a estrutura de classes (Poulantzas, 1969); logo, aqueles que controlam, dirigem ou ocupam os principais centros de poder do aparelho estatal (a "burocracia"), independentemente de sua origem social, crenças e motivações específicas, estão destinados, queiram ou não, a reproduzir a função objetiva do Estado, que consiste em manter a coesão social de uma determinada formação social (Poulantzas, 1971); isso seria válido mesmo em qualquer forma