As] maneiras de fazer [são] as mil práticas [das pessoas sobre o] espaço organizado pelas técnicas de produção sócio-cultural, operações quase microbianas que proliferam no seio das estruturas tecnocráticas e alteram o seu funcionamento por uma multiplicidade de "táticas" articuladas sobre os "detalhes" do cotidiano, [exumando] as formas sub-reptícias que são assumidas pela criatividade dispersa, tática e bricoladora dos grupos ou dos indivíduos (Certeau, 1994: 41).[Em] todo ato de trabalho, estão em jogo capacidades singularmente adquiridas, de tendências ao uso de si para recompensar tão infinitesimalmente quanto se desejaria um mundo a sua conveniência: nenhuma lógica de relações sociais domina inteiramente sem ser, em algum grau, submetida [...] aos tipos de exigências das quais as vidas individuais são portadoras (Schwartz, 1992: 55).
ResumoO chão de fábrica é constituído por operários cuja atuação cotidiana em diferentes postos de trabalho consiste, simultaneamente, na gestão de si próprios. Embora a fábrica seja cravejada por normas oficiais operacionais, de segurança e de qualidade, os operários gerem todos esses elementos conforme suas necessidades psicofísicas e escolhas valorativas possíveis. Portanto, trata-se de uma análise, pautada tanto em veio teórico, notadamente o ergológico, quanto, especialmente, em achados empíricos extraídos de entrevistas efetivadas junto a operários metalúrgicos da grande São Paulo. Ambas as esferas, teórica e empírica, comungam esforços em mostrar as atividades de chão de fábrica em uma perspectiva distanciada daquela de pura execução por operadores via operações padronizadas exogenamente. Essas atividades são na realidade re-formuladas, re-conduzidas, às vezes até reinventadas, consequentemente, apropriadas por sujeitos operários, que renormalizam o seu meio e, na medida do possível, singularizam seus atos de trabalho de acordo com os seus próprios usos subjetivos, valorativos e simbólicos.