“…De um lado, as mulheres negras 3 ao participarem do Movimento Feminista identificavam que as especificidades entre brancas e negras não eram contempladas em suas bandeiras, ações e discursos. Cito, como exemplo, a campanha que as feministas brancas lideravam pela extinção do Programa Bem-Estar Familiar no Brasil (Bemfam) (BERQUÒ; ROCHA, 2005), subsidiado por agências como o Banco Mundial, a Fundação Ford e a Fundação Rockfeller, que empreendia o controle da natalidade no país, mais especificamente nas favelas e no Nordeste. Do outro lado, estavam as mili-tantes do Movimento de Mulheres Negras -em sua maioria moradoras dessas comunidades -que, mesmo cientes da ideologia de esterilização em massa de pobres do Terceiro Mundo que norteava esse serviço, defendiam essa política contraditória, por ser a única opção para o acesso aos métodos contraceptivos, diante da inexistência de políticas públicas universais com tal finalidade.…”