Resumo: Os últimos anos têm assistido ao crescimento da reflexão sobre os aspectos éticos do ofício historiográfico. Sem pretensões de exaustividade, o presente ensaio aborda essas questões com especial ênfase ao trabalho do historiador holandês Herman Paul. Em uma série de artigos recentes, Paul busca instrumentalizar preocupações éticas numa renovação da história da historiografia. Aqui, procura-se analisar as implicações dessa passagem do texto à ação enquanto objeto de análise, além de sondar os limites da abordagem desenvolvida por Paul para uma abordagem ética relacionada não apenas ao passado mas também ao futuro da disciplina histórica.
Palavras-chave: Ética; História da Historiografia; Herman Paul
Abstract:Recently there has been a growing concern about the ethical aspects of historians' work. Without trying to be exhaustive, the presente essay tackles these questions with a special emphasis on the work of Dutch historian Herman Paul. In a series of articles, Paul tries to canalize ethical concerns into a renewed perspective about the history of historical writing. What I try to do here is to probe the limits of this approach in order to question not only the ethical concerns related to the past but also to the future of the historical science.Keywords: Ethics; History of Historical Writing; Herman Paul "História, psicanálise e giro ético". Com esse título, Dominick LaCapra assinava o epílogo aos seis ensaios publicados em History and Memory after Auschwitz, originalmente publicado em 1998. Ao longo das cerca de trinta páginas que concluem o livro, LaCapra reforça a sugestão de pensar a elaboração psicanalítica para além do enquadramento clínico, concebendo-a como instrumento para buscar o controle sobre ações que, irrefletidas, tendem à repetição (LACAPRA, 2009, p. 224). O verbo "elaborar", então, ligase estreitamente ao problema do agir ético e ao juízo crítico que acompanha a tomada de posição de um agente que, frente ao passado e ao presente, adquire a condição de sujeito (LACAPRA, 2009, p. 214). Tornar-se sujeito através e com relação ao passado permite considerar a entrada em cena de um "giro ético" que, diante dos acontecimentos históricos traumáticos dos quais foi pleno o último século, enfrenta os pressupostos subjacentes a qualquer atividade intelectual ligada à compreensão e ao entendimento desse mesmo Doutorando em História (UFRGS).