Além do Estado e da ideologia: imigração judaica, Estado-Novo e Segunda Guerra Mundial

Abstract

A partir de uma pesquisa em fontes primárias das instituições centrais associadas à imigração judaica em São Paulo e Rio de Janeiro, este artigo mostra como, durante o Estado-Novo e a Segunda Guerra Mundial, as entidades judaicas funcionaram de forma corriqueira, adaptaram-se às restrições nacionalistas do governo Getúlio Vargas e, muitas vezes, engendraram estratégias sofisticadas para enfrentar a lei e a ideologia. Esta perspectiva de história social e do cotidiano evidencia, portanto, uma leitura distinta daquela que - analisando exclusivamente a lei, a ideologia e o preconceito do regime Vargas - considera que havia um clima de medo e perseguição generalizado entre os imigrantes judeus residentes no País. Este artigo mostra, complementarmente, que 1937-1945 foram anos decisivos para a implantação de uma comunidade etnicamente ativa e para a sedimentação de uma identidade judaico-brasileira.

Diaspora boundaries and racial democracy: Nationalist discourses on Judaism and Zionism in Brazil

“…Among other measures, the Yiddish press was proscribed, and Zionism was deemed a foreign ideology 6 . Although Zionist organisations were banned or dissolved, many managed to circumvent official limitations in different ways and continued to pursue most of their activities (Cytrynowicz, 2002). In state discourse, however, the Jewish diasporic stance was as illegitimate as any other manifestation of diasporic identity.…”

Os novos contornos do antissemitismo, a construção de imaginários pela mídia no Brasil e a escrita da História

“…Avraham Milgram (1994), museólogo e historiador, traz, no início da década de 1990, um trabalho inédito onde busca investigar a política imigratória brasileira e sua atuação quanto à emissão dos vistos aos judeus convertidos ao catolicismo, uma questão que permanece latente ainda nas suas produções mais recentes como aquelas que dão voz aos Justos das Nações, não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus sem exigir nada em troca (MILGRAM, 2017). Entram para o rol de historiadores dedicados ao tema do antissemitismo no Brasil o brasilianista Jeffrey Lesser (1995;2005) e Roney Cytrynowicz (2002), os quais, muito embora apresentem perspectivas que contrariam algumas questões suscitadas por Carneiro, trazem à luz do debate o fenômeno antissemita.…”

Notícias do Rio": a intervenção no jornal O Estado de S. Paulo e a autolegitimação do Estado Novo (1939-1945)

“…1940, p. 2). 64 Cytrynowicz (2002) chama a atenção para o cuidado no tratamento da fonte policial, pois estas "tendem a fazer crer que o mundo imaginado pela polícia existiu de fato tal qual esta o imaginava. É próprio da lógica policial, em qualquer época, ainda mais em uma ditadura, ver inimigos e acreditar na possibilidade de controle completo e total sobre os inimigos".…”

“…1941, p. 2). Cytrynowicz (2002) analisando a construção, tanto da historiografia sobre o antissemitismo quanto da memória coletiva judia, vê nessa "ameaça" do elemento semita direcionada especialmente aos imigrantes potenciais e não aos membros desse grupo residentes no país. Segundo o autor, "[...] no exterior, os judeus eram considerados semitas, portanto não europeus e indesejáveis; uma vez no Brasil, eles eram brancos (não negros), portanto aceitáveis no contraste com uma sociedade cujo ideal de branqueamento era (é) central" (CYTRYNOWICZ, 2002, p. 397).…”