Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. Resumo: O artigo trata da inconstância da imagem dos índios durante os processos de conquista e colonização da América, e da concomitante repetição de um gesto fundamental: a entrega do Novo Mundo como um presente para um monarca. A genuflexão fazia parte da representação dos anseios coloniais europeus. Tecendo reflexões metodológicas a partir de Warburg, estudamos estas imagens como partes integrantes de uma rede de representações que foi atuante na constituição dos imaginários sobre o Império espanhol. Inventariamos diversas imagens em que o gesto em questão se fez presente, sobretudo em gravuras, e realizamos o cotejamento entre as mesmas, observando os gestos dos agentes presentes. No entanto, demos destaque às estampas do livro Historia de Nueva-España-coletânea de cartas de Hernán Cortés, compilada com outros documentos e demais notas pelo Arcebispo do México Dom Francisco Antonio Lorenzana, em 1770, e que se encontra na seção de obras raras da Biblioteca Nacional (RJ). Concluímos que em dois séculos, sob duas dinastias, houve algumas mudanças nas representações, como a maior inserção dos corpos indígenas em representações das cortes europeias. No entanto, algo permaneceu no discurso imagético: europeus com expectativas de receber objetos e riquezas das mãos de índios.