“…Mencionando o exemplo do Brasil, os sociólogos franceses acusavam os pesquisadores norte-americanos de, aqui, manipularem os líderes do movimento negro local a adotar as táticas, crenças e estratégias do Black Movement, o que, per si, era um grande perigo, pois, entre outros malefícios, forçava o aparecimento da "globalização da raça", não a partir de uma convergência dos modos de "dominação etno-racial" nos diferentes países, mas antes por meio da quase "universalização do folk concept norte-americano de raça sob o efeito da exportação mundial das categorias eruditas americanas" (Bourdieu e Wacquant, 2002, p. 23). Vários autores refutaram os postulados de Bourdieu e Wacquant, argumentando que, entre os Estados Unidos e o Brasil, os intercâmbios no mundo das ideias se operam, não por imposições unilaterais e maquiavélicas, e sim por intermédio de trocas, empréstimos, apropriações e reelaborações mútuas (Hanchard, 2002;French, 2002;Sansone, 2002;Telles, 2002;Fry, 2005). Portanto, é um erro imaginar que, na arena das relações raciais, existe, de um lado, um país demiúrgico produtor e irradiador de posicionamentos, tendências e retóricas e, de outro, um país meramente receptor e reprodutor passivo dessas influências.…”