Parque do Povo: um patrimônio do futebol de várzea em São Paulo

Abstract

RESUMO: O presente artigo procura discutir a constituição de um patrimônio cultural paulista vinculado ao universo da cultura popular, evidenciando as justificativas que levaram ao reconhecimento da importância de proteção da última praça de campos de futebol de várzea da capital. Busca, também, debater as condições e circunstâncias em que se deu seu desaparecimento na cidade, fruto de um projeto de requalificação da área conduzido pelo poder público municipal, no ano de 2006. O objetivo é problematizar o discurso que legitimou as intervenções realizadas no parque, as quais resultaram na descaracterização do tombamento e, desta forma, colocar em evidência os rumos das políticas públicas de patrimônio em São Paulo. PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio cultural. Cultura popular. Futebol de várzea. Requalificação do patrimônio.ABSTRACT:The present article seeks to discuss the constitution of a piece of São Paulo's cultural heritage which is linked to the popular culture universe, substantiating the reasons that brought awareness to the issue of protecting one of the last amateur football parks in the city of São Paulo. We also aim to discuss the conditions and circumstances which led to its disappearance, in an attempt by city government to revitalize the area in 2006. The objective of the article is to question the discourse which was used to justify the interventions in the park, resulting in a change to its historic status and, thus, call attention to the direction of public heritage policy in São Paulo. KEYWORDS: Cultural heritage. Popular culture. Amateur football. Revitalization of public heritage. IntroduçãoNo contexto de um significativo movimento de renovação conceitual e de práticas na proteção do patrimônio cultural em São Paulo, o qual possibilitou incorporar novos objetos representativos de outros sujeitos históricos, destacava-se um tombamento em particular, o do Parque do Povo, situado no bairro do Itaim Bibi,

When museology and museums do not reach the Peripheries and varzéa football: Case study of Sete de Setembro in Vila Progresso

“…Outra ação importante em torno da memória das periferias, com foco no futebol de várzea, foi o tombamento do Parque do Povo 3 , que logo foi desfigurado numa requalificação do parque que destruiu a maior parte dos campos de futebol de várzea que ele possuía e que foram tombados anteriormente (Scifoni, 2013). É um exemplo de como a memória, mesmo preservada com a força da lei, tende a sofrer por relações de poder.…”

“…Magnani (1994) constrói a possibilidade de tratarmos o campo de futebol, ou no caso, os campos, como passíveis de patrimonialização para sua preservação, sem congelar suas práticas, muito pelo contrário. Scifoni (2013) analisa como se deu o processo de destruição de alguns campos de futebol de várzea, tomando o caso do tombamento do Parque do Povo, mostrando como o futebol de várzea demonstra ser um espaço de resistência e trazendo a importância de instrumentos de memória para resistir. Importante também ressaltar Cajazeira (2009) no que tange os dados levantados e sua leitura aprofundada sobre a Copa Kaiser e Copa Brahma, campeonatos importantes nos quais o Sete participou e que poderão demonstrar um pouco mais a organização deste clube.…”

\'A várzea é imortal\': abnegação, memória, disputas e sentidos em uma prática esportiva urbana

“…De um clube varzeano com campo e sede social própria, que serviam de ponto de referência a sociabilidade local, até a transformação em um time de "11 camisas" (Miskiw, 2012) (Scifoni, 2013). Com a diminuição do tamanho do campo, as partidas corriam com número reduzidos de jogadores.…”

O samba como patrimônio cultural em São Paulo (SP): as batucadas de beira de campo e o futebol de várzea

“…Qual seria a real intenção do projeto, dado que o Complexo já possuía um uso cotidiano intenso e, destacadamente, realizado pela população de baixa renda ao longo de toda a semana? Para essa pesquisa, em acordo com as organizações locais, tratava-se de grande ameaça às sociabilidades desses campos, aos jogos, às organizações coletivas e à musicalidade ali presente, remontando o movimento já verificado em meados do século XX e, especificamente, no Parque do Povo, na Zona Sul, cujas instalações também destituíram um histórico reduto do futebol popular (SCIFONI, 2013). Na prática, o projeto não avançou e os grupos locais seguem organizados.…”