Um texto não se completa senão pelo ato da sua leitura -capaz de torná-lo significativo, revelando suas mais diversas possibilidades interpretativas -, o que termina por reconfigurá-lo segundo o olhar de seus leitores. Nesta relação dinâmica, podem ser descortinados novos sentidos, escapando, assim, à vontade autoral daquele que o produziu. Tal vontade não pode ser invocada como o lugar de produção da verdade do texto, mas como lugar de partida para um debate e, de fato, a produção de um novo texto. Nesse sentido, tenho muito a agradecer aos editores dos Anais do Museu Paulista pela oportunidade de apresentar algumas reflexões sobre temática que se cruza com meu interesse mais específico acerca da escrita da história em suas diversas possibilidades.Problematizar nossa relação com o passado é o que efetivamente transforma esse tempo pretérito em objeto de investigação, tornando-o presentificável por diferentes recursos e meios, capazes de dotar de sentido, novamente, um conjunto de ações humanas que significaram e não significam mais. Igualmente, refletir sobre nossa relação com o passado ajuda-nos a ancorarmos, no presente, identidades e projetos, como condição única de produção de futuros. Escrita da história, usos do passado conectam-se, assim, como investimentos sociais necessários à produção de sentido para as ações humanas.Por outro lado, esses mesmos investimentos em ressignificação de passados -necessários ou desejados -atenderam a diferentes demandas das sociedades humanas, colocando tal atividade sob o signo da historicidade. Isso significa afirmamos que o passado só pode ser enfrentado por contrastividade em relação a um tempo que denominamos presente e/ou futuro, a menos que admitamos um passado em-si, existente em sua própria essencialidade. Sua existência não nos assegura, como bem nos adverte Jan Assmann, as condições para a existência da história como ofício e reflexão crítica, como um investimento peculiar que transforma o passado especificamente em história.