A guerra é um fenômeno social com graves consequências materiais, objetivamente avaliáveis, mas que também ressoa na memória coletiva e afeta psicologicamente os indivíduos, quer tenham colaborado para sua eclosão, participado ativamente no conflito, vivenciado ou recordado o acontecimento ou simplesmente presenciado narrativas, acompanhado notícias em quaisquer meios de comunicação ou fruído produções artísticas relacionadas com a guerra, como romances históricos. Acompanhado geralmente de sua oposição e condição necessária para que seja identificado, ou seja, a paz, o fenômeno da guerra tradicionalmente é analisado na filosofia (por exemplo, Hegel, 1975;Hobbes, 1997;Kant, 1989) e sobretudo na história. No campo da metodologia das ciências sociais, aqui compreendida como reflexão sobre a prática da pesquisa social em seus aspectos lógico, epistemológico, teórico e técnico, a guerra comparece como um tradicional exemplo de análise em explicações causalistas (Mill, 1999) ou quase causais (Von Wright, 1971). Primeiramente cabe destacar uma mudança que se efetivou desde a identificação de condições ou fatores objetivos a necessariamente vinculados a um conflito bélico, principalmente em análises históricas comparativas, até considerar a guerra um processo ou resultado da agência humana. No último caso, a guerra é relacionada também com elementos 1. Este artigo tem como base uma comunicação apresentada no 37º Encontro Anual da Anpocs, em outubro de 2013, no st-20 (Teoria social no limite: novas frentes/fronteiras na teoria social contemporâ-nea). O texto foi adaptado e reformulado levando em conta as considerações feitas pelos debatedores e colegas presentes.