Novos sonhos de verão sem fim: surfe, mulheres e outros modos de representação

Abstract

Este artigo pretende analisar a maneira que o filme Blue Cruch (2002) - no Brasil A onda dos sonhos - captura, representa e difunde sentidos sobre o surfe. O fundamento da iniciativa é o de que filmes como esse, captam o que a prática de esportes simboliza, atribuindo-lhes assim significados que podem ser interpretados a partir deles mesmos. Nesse caso, três elementos do seu enredo foram tomados como eixo de análise: i) o modo de representação da mulher; ii) a crescente comodificação como forma de se relacionar com esta modalidade; iii) a tendência realística-documental dos filmes de surfe. São dimensões que dramatizam dinâmicas culturais desta modalidade, encerrando uma ambivalência que traduz as disputas, clivagens e tensões próprias a qualquer prática cultural.

Sozinhas No Pico?

“…Nas décadas seguintes, como observado por Souza (2013), o surfe passou por um processo de esportivização, com competições de alto nível, ratificando uma abordagem que privilegiava a força, em lugar da plasticidade, com aprimoramento dos equipamentos e de meios de treinamento, tornando-se uma prática cada vez mais comum tanto para lazer quanto com finalidades competitivas. Esse processo acentuou a disparidade de gênero no surfe, que só veio a se amenizar na segunda metade da década de 1990 (DIAS, 2010).…”

Surfe é Estilo de Vida

“…Por volta de 1960, a presença de mulheres no esporte se mostrou de forma discreta. Autores apontam como um dos principais motivos para este distanciamento a presença de uma abordagem técnica do surfe que supervalorizava, em ambiente competitivo, aspectos como a força, a agressividade, a virilidade e a coragem (BOOTH, 2001;DIAS, 2010: CRUZ, 2011.…”

“…O surfe feminino passou a ter maior visibilidade após a década de 1960, em parte pelo desenvolvimento de um estilo de surfe mais agressivo, o que contribuiu para minimizar o preconceito. Também apontamos como influenciadores do maior envolvimento das mulheres com o esporte, o surgimento de um contexto competitivo próprio e o novo modo de retratação da figura da mulher no surfe pela mídia, especialmente em meados de 1990 (DIAS, 2010;CRUZ, 2011).…”