Data: Vinte e três de agosto de dois mil e dezenove RESUMO Esta dissertação tem por objetivo pensar o conceito de poder de Hannah Arendt à luz da experiência totalitária. O que pretendemos demonstrar é que Arendt aloca o poder totalitário, fundado na ideologia e no terror, em situação de total oposição ao poder legítimo, caracterizando o totalitarismo, primeiro, como evento todo ele inteiramente novo; segundo, como fenômeno de natureza essencialmente antipolítica. Utilizando-se de uma metodologia inventiva e não usual, Arendt traça os elementos que, embora já presentes na cultura, cristalizaram-se no totalitarismo, dando início a um processo todo ele terrível e terrificante. Tais elementos, indica Arendt, adquirem suas devidas proporções na modernidade: a confusão entre o público e o privado, a liquidação da sociedade de classes, o surgimento das massas, a glorificação do trabalho e vitória do animal laborans; situações que aniquilaram toda e qualquer possibilidade de compreensão e explicação da realidade no mundo modernocontemporâneo. Para Arendt, o advento dos campos de trabalho forçado e de concentração tornaram em parte obsoletos os quadros conceituais de nossa tradição de pensamento políticofilosófico-ocidental. A ruptura com a tradição obrigou Arendt a revisitar a antiguidade clássica grega e romana, cujas condições lhe permitiram recuperar o poder em sua forma pura ou legítima, distinguindo-o de fenômenos que não apenas lhe são estranhos como contrários, embora historicamente tratados como correlatos. No limiar de nossa contemporaneidade, Arendt, agora sob um novo ímpeto e com o olhar um pouco mais otimista frente aos acontecimentos, vê, no sistema de conselhos e nos movimentos de luta e de resistência que eclodiram por todas as partes do globo terrestre, a possibilidade, mesmo que discreta e fugaz, de uma nova estrutura política, cujas instituições e funcionalidades se mostraram todas contrárias ao modus operandi totalitário. Assim, neste trabalho, teremos como fio-condutor a premissa de que a introdução de um conceito de poder diferente daquele comumente utilizado nos quadros teóricos de nossa tradição tem por objetivo oferecer uma resposta política viável ao governo total. No contexto moderno-contemporâneo, sabemos estarem presentes muitos dos elementos inerentes ao seu surgimento e manutenção. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre o que não deveria ter acontecido e que deve ser lembrado, de modo a não se repetir.