“…Lembremos rapidamente que o sentido de transgressão para Bataille, tal como Foucault nos mostra no texto de 1963, se constitui em torno de cinco eixos fundamentais15 : 1) limite e transgressão formam um conjunto, uma relação de interdependência; 2) entre ambos acontece uma espécie de jogo, o qual se liga a duas -jun/2012 formas de temporalidade, a do sagrado e a do profano; 3) o domínio da transgressão é, por excelência, o do erotismo, cujo sentido fundamental é religioso; 4) este sentido religioso, entretanto, não é o do cristianismo, que valorizou o trabalho em detrimento do gozo, mas o de uma religião primitiva, pré-cristã e 5) do ponto de vista teórico, as referências fundamentais de Bataille são Marcel Mauss e Roger Callois 16. Diogo Sardinha assinala, por sua vez, que justamente "a experiência moderna da sexualidade, de Sade a Bataille, serve de ponto de partida para uma teoria da transgressão concebida sob o regime do excesso e da violência, teoria que desemboca no suplício do sujeito e na possibilidade da loucura" 17. A literatura, neste quadro, é o modo essencial, o mais importante, de expressão do ultrapassamento dos limites, da possibilidade de realização deste desejo de excesso, daí decorrendo uma dupla transgressão, fundamental aos olhos de Foucault: uma, que se apresenta por meio de uma experiência com a linguagem e outra, intrinsecamente ligada à primeira, por uma experiência com o erotismo, a qual, justamente por ultrapassar os limites, exige e impõe outra linguagem.…”