RESUMO.Este artigo apresenta um estudo das possibilidades de a Literatura ampliar o conhecimento de determinados contextos históricos produzido pelas Ciências Sociais. Concluiu-se que essa possibilidade torna-se real quando o escritor recorre a análises realizadas pelas Ciências Sociais a fim de operar com circunstâncias, personagens e interações sociais típicas do contexto que irá servir de pano de fundo para a sua obra. O contexto escolhido para este estudo foi o sertão do Brasil no período da República Oligárquica, que vai da proclamação do novo regime à revolução de 30; e a obra selecionada, A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. (1968, p. 319-365), como subsídios para este estudo. Não será nossa pretensão sugerir restrições ou emendas a essa obra consagrada da literatura brasileira e universal. Ao analisarmos o conto, desejamos, sim, verificar alguns procedimentos que poderiam conferir maior relevância sociológica a uma obra literária, à luz de alguns fundamentos da teoria estética marxista.Operando em um nível elevado de abstração conceitual, os cientistas políticos podem concluir que a presença efetiva do Estado no ordenamento das relações sociais, -ou seja, a soberania do poder público em um espaço nacional -possibilita a contenção da barbárie em sociedades divididas em classes (Yamauti, 2003, p. 137-148). A afirmação não é falsa, mas, sendo parcial, escamoteia uma dura realidade como seria possível verificar no episódio da Guerra de Canudos.Amparados em alguns princípios do materialismo dialético, ousaríamos afirmar que, de um modo geral, os textos teóricos das ciências sociais, em razão do seu maior ou menor distanciamento em relação ao processo empírico da vida cotidiana, tendem a reduzir a complexidade extraordinária que decorre das relações entre as dimensões objetiva e subjetiva da realidade humana e social a um esquema de interpretação abstrato. Dessa forma, determinados procedimentos disseminados pelo positivismo, quando adotados pelas ciências sociais para o desvendamento das relações estruturais essenciais, produzem, como efeito colateral, algumas distorções na percepção do objeto da investigação.Por exemplo, o relato pormenorizado da violência exercida pelo governo central para sufocar rebeliões, movimentos de luta armada e guerras civis que ocorreram no Brasil nos últimos dois séculos oferece um quadro substantivo do que foi verdadeiramente a