RESUMO: Objetivo:A morbimortalidade do tratamento conservador do baço após trauma desse órgão depende da extensão da lesão e da experiência da equipe cirúrgica com trauma esplênico. O objetivo deste trabalho é avaliar experimentalmente a recuperação esplênica após lesão cortante tratada conservadoramente. Método: Foram utilizados 20 cães machos, mestiços, com peso variando entre 7kg e 12kg. Sob anestesia com pentabarbitúrico sódico endovenoso, provocou-se uma lesão cortante longitudinal no baço, em uma extensão de 5 cm e profundidade de 3 cm. Em seguida, os animais foram distribuídos aleatoriamente, de acordo com a conduta com a ferida esplênica, em três grupos: Grupo 1 (n=10) -sem reparo cirúrgico; Grupo 2 (n=5) -sutura esplênica contínua com fio de categute cromado 5-0; Grupo 3 (n=5) -introdução de um segmento de omento maior na ferida esplênica e sutura contínua do baço com o omento, utilizando fio categute cromado 5-0. Os cães foram acompanhados durante cinco (Grupo 1A) ou 28 (Grupo 1B, 2 e 3) dias. Resultados: Todos os animais sobreviveram ao pós-operatório e não foram percebidas adversidades decorrentes da operação durante esse período. Não foi encontrada diferença no aspecto macroscópico dos baços retirados de todos os grupos. À microscopia, percebeu-se fragmento de omento dentro da cicatriz esplênica nos animais do Grupo 3. Conclusão: A lesão cortante de baço canino pode ser tratada pelos métodos conservadores. Caso se opte pelo tratamento cirúrgico, a sutura com e sem auxílio do omento são eficazes (Rev. Col. Bras. Cir. 2004; 31(6): 364-367
INTRODUÇÃOA crescente incidência de traumas abdominais e a freqüência com que o baço é atingido conferem ao trauma esplênico destaque especial nos serviços de urgência, tendo em vista que esse é o órgão abdominal mais lesado no traumatismo contuso [1][2][3][4] . Os avanços nos métodos propedêuticos, como lavagem peritoneal, ultra-sonografia, tomografia computadorizada, angiografia, cintilografia e laparoscopia permitem o planejamento melhor do tratamento 2,3,5 . Os procedimentos terapêuticos incluem desde o acompanhamento clí-nico, nas lesões menores, até a esplenectomia, quando o acometimento for mais extenso. Lamentavelmente, a maioria das feridas do baço ainda é tratada com a retirada completa do órgão, que é o maior reservatório de linfócitos do organismo e é responsável pela produção de opsoninas, como anticorpos, fatores do complemento e outros peptídeos 2,[6][7][8][9] . A esplenectomia total pode facilitar a instalação de infecções graves, por vezes fulminantes, que podem ocorrer em até 4% dos doentes 2,[7][8][9] . Essa adversidade é pior em crianças e pessoas imunodeprimidas, como os idosos e os portadores de doenças crônicas 6,9 . A fim de preservar a função esplênica e evitar as complicações da asplenia tem sido cada vez mais adotado o tratamento conservador ou as operações que conservam o baço, entre as quais inclui-se a sutura, a esplenectomia parcial, a esplenectomia subtotal e os autoimplantes esplênico 2,6,7,[10][11][12] . Quando há dificuldade em coi...