Ecossistemas de referência para restauração de matas ciliares: existem padrões de biodiversidade, estrutura florestal e atributos funcionais?

Abstract

A utilização de ecossistemas naturais como meta a ser atingida e a seleção de indicadores para monitoramento dos projetos são temas controversos na ciência e na prática da restauração. Analisamos a vegetação ripária em quatro remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual, para verificar se alguns atributos dessas comunidades se repetem em diferentes locais, podendo ser referência para esta região fitogeográfica. Instalamos dez parcelas de 100 m² em cada local, amostramos plantas lenhosas com altura ≥ 0,5 m, divididas em estrato regenerante (DAP < 5 cm) e estrato arbóreo (DAP ≥ 5 cm) e classificamos as espécies com base em atributos funcionais, raridade e status de ameaça. Contabilizamos lianas, pteridófitas e árvores com epífitas. As variáveis estruturais de densidade (estrato arbóreo e regenerante e árvores com epífitas), área basal e cobertura de copas não diferiram entre locais. Foram pouco variáveis entre as áreas a riqueza rarefeita para 100 indivíduos no estrato arbóreo, a riqueza total estimada por Jackknife e as proporções de espécies raras, tolerantes à sombra, de crescimento lento e zoocóricas. Porém, analisando-se a proporção de indivíduos na comunidade, somente a tolerância à sombra foi pouco variável. Para as outras variáveis analisadas não existem padrões que possam ser considerados referência para esta região fitogeográfica. No entanto, ainda que para algumas variáveis existam padrões, sua utilização como meta da restauração depende de: 1) prazos longos para monitoramento de projetos e, sobretudo, 2) estudos que demonstrem que os ecossistemas restaurados podem, um dia, igualar aos ecossistemas pré-existentes.

65 anos depois: Diversidade e composição florística de uma floresta ribeirinha reflorestada por meio do plantio de espécies exóticas

“…A riqueza florística foi menor quando comparada com vegetações semelhantes [20,57,59,61]. Custódio-Filho et al (1994) [59], em um levantamento utilizando o mesmo critério de inclusão que o presente estudo, encontraram 110 espécies, riqueza maior do que se considerarmos a soma das espécies nativas e exóticas deste estudo.…”

“…Esse aumento é relacionado ao aumento da cobertura arbórea, que age como barreira física para o vento e atrai a avifauna, mesmo se essa cobertura for composta exclusivamente por espécies exóticas [1]. Suganuma et al (2013) [20] comparando quatro levantamentos realizados em matas ciliares de Floresta Estacional Semidecidual bem conservadas, consideradas como ecossistemas de referência para áreas em recuperação, encontraram, no estrato arbóreo, uma média de 63% e 52% de espécies e indivíduos com dispersão zoocórica; 82% e 89% de espécie e indivíduos tolerantes à sombra; e 7% de espécies ameaçadas de extinção. Aqui nesse estudo encontramos 48% e 56% de espécies e indivíduos nativos zoocóricos; 94% e 98% de espécies e indivíduos nativos tolerantes à sombra; e 11,3% de espécies nativas ameaçadas de extinção.…”

“…É possível verificar se uma área reflorestada conseguiu restabelecer os seus processos ecológicos naturais por meio da comparação, utilizando-se ecossistemas de referência, a partir de descritores estruturais como a densidade de indivíduos arbóreos e padrões de diversidade funcional; como a proporção síndromes de dispersão e tolerância à sombra [20], além da comparação de padrões da composição florística [21] e da semelhança florística com remanescentes naturais do entorno [3].…”

Funcionalidade ecológica da restauração de áreas degradadas no bioma Mata Atlântica, Rio de Janeiro

“…Aos 20 meses, o indicador de área basal por hectare (1,21 m²/ha) apresentou valores inferiores ao encontrado por Melo et al (2007) (1,77 m²/ha), porém a altura média observada aos 20 meses (2,50 m) na REGUA foi superior à de 2,26 m observada pelos mesmos autores em plantios de 13 meses na região do Médio Paranapanema, São Paulo. A densidade de indivíduos (plantados + regenerantes) na área aos 20 meses (d=1.670 ind/ha) foi próxima à obtida por Suganuma et al (2013) Apesar do incremento positivo da cobertura de copas entre anos (50,6%), a cobertura de gramíneas permaneceu acima dos 25% aos 20 meses. Isso demonstra que a cobertura de copas na área ainda não foi suficiente para a erradicação de gramíneas por sombreamento.…”

Cobertura florestal ou função ecológica: a eficácia da restauração na bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê

“…O uso de ecossistemas naturais (ARs) como objetivo a ser alcançado pelos projetos de restauração e a aplicação de indicadores para seu monitoramento são temas controversos na ciência e na prática, porém é possível encontrar vários atributos estruturais, funcionais e de riqueza que podem ser utilizados como referência (SUGANUMA et al, 2013). Considerando essa questão, o conjunto de indicadores empregado baseou-se no método Marco de Avaliação de Sistemas de Manejo de Recursos Naturais Incorporando Indicadores -MESMIS (MASERA et al, 1999).…”