O atendimento da crise psicogênica nos prontos-socorros

Abstract

Este artigo analisa um aspecto da clínica médica e a rotina de acolhimento de doenças psicogênicas neste campo. A partir do fragmento de um caso de atendimento médico em pronto-socorro, observou-se um desmerecimento a pacientes com manifestações histéricas com somatização, consideradas pela equipe da instituição, ironicamente, como "emergências emocionais" ou "pitis". Tal comportamento reflete um problema clássico da deficiência de conhecimento sobre a medicina psicossocial, que se torna paradigmático nestes casos, onde há uma linha tênue entre o psíquico e o corporal. Para entender essa dinâmica, acreditamos que seja necessária uma incursão no contexto histórico do privilégio do diagnóstico racional, do discurso científico e suas influências no ensino médico contemporâneo.

A função do psicólogo no pronto-socorro

“…Outras demandas correspondem a crises psiquiátricas (Luccia & Luccia, 2011) que por vezes podem levar a tentativas de autoextermínio sob efeito ou não do uso de álcool ou drogas ilícitas (Dielh & Laranjeira, 2009). Nestes casos, o psicólogo além do suporte psicoemocional, faz também um trabalho de orientação sobre as possibilidades de atendimento na rede municipal de saúde, complementando assim os encaminhamentos médicos para atendimento de Referência, em conformidade com o princípio de integralidade do SUS (Brasil, 1990).…”

Percepção do profissional de saúde sobre o atendimento de pacientes com quadros de somatização no Serviço de Emergência Hospitalar

“…8 O não saber também é considerado desorganizador para a identidade do profissional médico, muito sustentada por um lugar de conhecimento protocolar e controle sobre as situações vivenciadas. 11 Retomamos Foucault, 16 ao assinalar novamente o lugar de poder e de saber ocupados pelo profissional médico nas instituições de saúde, tornando possível compreender estados de angústia e sentimentos negativos suscitados a partir de pacientes para os quais o saber médico não encontra as respostas necessárias. Questiona-se, a partir disso, o quanto o modelo de formação de profissionais de saúde atual, biomédico, é eficaz na compreensão desse sujeito complexo que se coloca diante do profissional e como o sentimento de despreparo indica uma lacuna nesta formação.…”

“…As dificuldades do atendimento a pacientes com quadros de somatização aparecem na literatura majoritariamente na percepção de falta de tempo, 11,12,14 a qual, contudo, precisa ser avaliada com um olhar crítico, para buscar compreender o que significa esde tempo a mais dedicado a esses pacientes. Deve-se questionar se o sentimento de tempo "gasto" com esses atendimentos é percebido desda forma por se tratar de uma queixa considerada pelos profissionais como alheia ao seu trabalho, no cenário em que se o foco também compreendesse o ser humano na sua integralidade junto de suas questões psicossociais seria considerado perder tempo?…”

“…Esses pacientes não são vistos como importantes pelas equipes emergencistas, 11 e a falta de tempo é utilizada como justificativa para o profissional não conseguir prestar uma assistência empática a esses pacientes. Na literatura, encontram-se poucos estudos que abordam a percepção dos profissionais da equipe multiprofissional de Serviços de Emergência sobre o atendimento desses pacientes, sendo os estudos encontrados mais focados na percepção médica.…”

“…Na literatura, encontram-se poucos estudos que abordam a percepção dos profissionais da equipe multiprofissional de Serviços de Emergência sobre o atendimento desses pacientes, sendo os estudos encontrados mais focados na percepção médica. 7,11,12 Além disso, observa-se lacuna na literatura nacional recente a respeito dessa temática.…”