Resumo: O ensaio lança mão da noção de fronteira para analisar relações do campo do aconselhamento psicológico com a ordenação disciplinar da psicologia, partindo da experiência do Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Articula referências teóricas do aconselhamento psicológico praticado com base na abordagem centrada na pessoa e do chamado pós-colonialismo na esfera da crítica literária, nomeadamente Edward Said e Homi Bhabha, assim como da antropologia, com Marc Augè e Vincent Crapanzano, e da história das ciências, com Bruno Latour, buscando refinar a visão da formação identitária do aconselhamento psicológico praticado pelo SAP. A análise parte de alguns elementos da fundação do SAP para, em seguida, dar atenção ao contexto e aos desdobramentos da metáfora e do conceito de fronteira na constituição identitária do campo de aconselhamento psicológico na relação com a ordem disciplinar no interior da psicologia e do IPUSP, tecendo, por fim, comentários sobre sua liminaridade e tomando como exemplo o plantão psicológico. Condição de liminaridade e posições minoritárias e/ou contra-hegemônicas no plano político e ideológico aparecem como qualidades do aconselhamento psicológico visto como região de fronteira.Palavras-chave: aconselhamento psicológico, abordagem centrada na pessoa, fronteira, interdisciplinaridade. 407 * Autora correspondente: maluschmidt@terra.com.br O aconselhamento psicológico tem sido considerado área da psicologia, sustentando uma pluralidade de perspectivas teóricas e práticas que denunciam as perenes tensões entre a vocação organizadora e restritiva das divisões e os transbordamentos que afrontam suas ordens.Esta característica, não exclusiva do aconselhamento psicológico, faz pensar que noções de campo, território ou terreno seriam mais fiéis à presença de ocorrências controversas, dinâmicas paradoxais e incoerências a desmentir a pretensa unidade e delimitação que a palavra "área" sugere. A provocação do móvel e mutante no interior das disciplinas e de suas subdivisões é o quê, aqui, conduz à apreciação da ideia de fronteira no campo, território ou terreno do aconselhamento psicológico.O artigo faz um percurso pelo tema começando com a referência a alguns elementos da fundação do Serviço de Aconselhamentno Psicológico (SAP) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), lugar de ancoragem do debate que se quer empreender; em seguida, dá atenção ao contexto em que a metáfora da fronteira começou a ser usada na e pela equipe do SAP; depois dessas duas menções introdutórias, passa à apresentação do conceito de fronteira na leitura da constituição identitária do campo de aconselhamento psicológico na relação com a ordem disciplinar no interior da psicologia, tecendo, por fim, comentários sobre a liminaridade do aconselhamento psicológico praticado pelo SAP, tomando como exemplo o plantão psicológico.
Sobre o Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSPO SAP do IPUSP tem mais de 40 anos, tendo sido criad...