A associação entre infestações helmínticas e doenças alérgicas permanece controversa na literatura 1,2 . O artigo de Silva et al. 3 , publicado neste número do Jornal de Pediatria, vem colocar mais um ingrediente nesta questão polêmica; agora, porém, sob uma ótica nacional. Antes de entrar na discussão dos achados desta bem desenhada e conduzida investigação, algumas considerações preliminares são pertinentes. Inicialmente, é necessário destacar que a existência de uma possível associação entre a infestação por Ascaris lumbricoides e a ocorrência de asma na infância poderia ter importante impacto em saúde pública. Tendo a ascaridíase elevada prevalência em crianças brasileiras, em especial em regiões mais carentes, conforme demonstram Silva et al. em seu artigo, a diminuição desta parasitose poderia vir a contribuir para a diminuição da asma na infância que, por sua vez, também tem elevada prevalência no Brasil. Isso traria não somente benefícios individuais para as crianças, mas também benefícios econômicos para as famílias e para o sistema de saúde. A temática trazida pelo artigo de Silva et al. 3 , portanto, vai além da identificação de fatores predisponentes, ou associados à asma, como uma maneira de melhor compreender a fisiopatologia da doença.Nesta linha de raciocínio, torna-se também importante questionar se existe fundamento biológico plausível para explicar uma possível associação entre ascaridíase e asma. Alguns autores advogam que infecções gastrintestinais, incluindo as parasitárias, seriam fatores protetores à resposta imune, contribuindo para uma menor ocorrência de asma em populações infectadas 4 . Sabe-se entretanto, que as infecções helmínticas induzem a síntese de IgE através de uma estimulação policlonal dependente de IL4 5 . Entretanto, esta relação está longe de explicar uma possível associação causal entre asma e infecção helmíntica. Em um estudo recente 5 , os autores buscaram relacionar sensibilização alérgica com IgE específica para áscaris. Esse estudo tem especial interesse em função de seu delineamento visando estudar uma coorte de escolares, através de dois inquéritos com três anos de diferença, tendo sido possível observar escolares seronegativos para áscaris, no primeiro inquérito, que se tornaram seropositivos no segundo inquérito. Os autores observaram uma elevação da IgE total e específica para áscaris em crianças que se tornaram soropositivas, assim como um aumento de três vezes da sensibilização para dermatofagóides. Estes achados sugerem que o dermatofagóide possa estar implicado na relação áscaris e asma, colocando mais um fator na equação. Ademais, outro mecanismo que poderia explicar, ao menos em parte, uma possível associação entre asma e áscaris, e que não é aventado na literatura, tem a ver com a característica migratória das larvas. A ocorrência de pneumonites e sín-drome de Löffler pode ocasionar sibilos em crianças 6 . A passagem das larvas pelo pulmão poderia desencadear crises de asma e/ou favorecer a sensibilização de crianças infestadas.Em relação ao artigo de S...