A ceratite bacteriana constitui causa importante de déficit visual, associando-se frequentemente a situações em que ocorrem alterações nos mecanismos de defesa corneana. Diagnóstico e tratamento imediatos podem limitar a perda de tecido, minimizar a cicatrização e reduzir a necessidade de cirurgia futura. Patogênese -Mecanismos de defesa local impedem o desenvolvimento de ceratites infecciosas em hospedeiros normais apesar da presença de flora microbiana diversa nas pálpebras e conjuntiva. Constituem parte da defesa: epitélio corneano íntegro, filme lacrimal com imunoglobulinas e enzimas como lisozima, beta-lisina e lactoferrina, radicais livres na camada de mucina do filme lacrimal e a ação de limpeza das pálpebras durante o piscar. Este conjunto de fatores torna o ambiente da superfície ocular desfavorável para o crescimento de bactérias 2 . Enquanto a maioria das bactérias são incapazes de vencer as defesas do hospedeiro (agentes oportunísticos podem produzir infecção quando a defesa do hospedeiro está comprometida), Neisseria gonorrhoae, Corynebacteria diphtheria, Hemophyilus e Listeria podem invadir o epitélio corneano íntegro 6 .
EtiologiaCeratite bacteriana e lente de contato -Pseudomonas é o organismo mais frequentemente isolado de ceratite infecciosa em usuários de lentes de contato hidrofílicas 1,5,10,15 . O uso de lentes de contato representa ser o principal fator de risco para o desenvolvimento de ceratite bacteriana. Calcula-se um aumento de 10 a 15 vezes no risco de ceratite infecciosa no uso continuado de lentes de contato quando comparado com o uso diário. A incidência anual estimada de ceratite por 10.000 usuários é 4,1 para uso diário de lente de contato hidrofílica; 20,9 para o uso continuado de lente hidrofílica; 2,0 para lente rígida convencional (PMMA) e 4,0 para lente rígida gás permeável 12,14 . A maior parte das complicações relacionadas com o uso das lentes de contato dá-se por falta de obediência dos usuários às orientações de manutenção e troca das lentes, que facilitam a formação de depósitos 15 . Os depósitos, além de provocar desconforto e turvação visual podem ocasionar reações imunoalérgicas, facilitar a aderência de microorganismos e levar à infecção 10 . Pseudomonas é especialmente capaz de aderir-se à superfície da lente, especialmente na presença de depósitos 3 . Hipóxia durante o fechamento palpebral (durante o sono) resulta em compromisso da barreira epitelial, permitindo a adesão e subsequente invasão do organismo 4 .Resposta corneana -A liberação de toxinas e fatores quimiotácticos resultam em destruição tissular, edema, e infiltrado polimorfonuclear (PMN). As respostas inflamatória e imune resultam em fagocitose do organismo e podem contribuir para dano tissular. Se a infecção é contida pela ação dos antibióticos e respostas do hospedeiro, ocorre reparação do tecido com formação de cicatriz. Se a infecção progride, destruição tissular e eventual perfuração podem ocorrer 2 .Apresentação clínica -Tipicamente há história de traumatismo ocular, doença corneana pré-existente,...