DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SÃO FUNDAMENTAIS para a prática de políticas de saúde, para a implementação de estratégias diagnósticas e terapêu-ticas e, em última análise, para a compreensão da causa das doenças e, a partir daí, da melhor forma de prevenir sua ocorrência. Registros, como o programa de vigilância e epidemiologia (Surveillance, Epidemiology, and End Results -SEER), uma rede de nove registros de câncer de base populacional com área de cobertura de aproximadamente 10% da população norte-americana, têm sido fundamentais para uma série de análises a partir das quais vêm se delineando estratégias diagnósticas, terapêuticas e preventivas em relação ao câncer nos Estados Unidos. No Brasil, a preocupação de se conhecer a extensão da mortalidade e incidência do câncer data de muitos anos. O Anuário Estatístico do Estado de São Paulo, inicialmente denominado Relatório e Resumo Anual, possui registros de mortalidade por câncer datados de 1898 (1). Dados nacionais do período de 1929 a 1932 constam do Anuário de Bioestatística publicado pelo que se chamava em 1944 de Ministério de Educação e Saúde (1). Mas a importância de tais dados vem sendo reconhecida há muito mais tempo. Ainda em 1904, numa revista chamada Brasil-Médico, um artigo assinado por Sodré estudava o período de 1894 a 1898 procurando relacionar o clima com uma maior presença do câncer no extremo sul do país (1).Nesta edição dos ABE&M, Coeli e cols. (2) utilizaram os Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) juntamente com dados populacionais e de mortalidade acessíveis no Datasus do Ministério da Saúde (http://www.datasus.gov.br) para mostrar que a incidência do câncer da tiróide (CT) no Brasil se assemelha à descrita em outros países, embora varie consideravelmente nas diversas regiões pesquisadas. Mostraram também que as taxas de mortalidade vêm diminuindo ao longo dos anos e são comparáveis às taxas de outros países (2). Este trabalho insere os dados brasileiros de incidência e de mortalidade na epidemiologia mundial do CT, permitindo comparações com outras nações e sugerindo ações estratégicas para o nosso país, como uma melhor distribuição dos recursos diagnósticos e terapêuticos entre as diversas regiões do Brasil. No entanto, o trabalho também evidencia grandes limitações nacionais já que apenas os registros de São Paulo e de Goiânia preenchem os critérios mínimos para serem considerados de cobertura adequada dos casos de câncer (2). Enquanto esperamos que as diferenças regionais sejam corrigidas, tais limitações não podem nos impedir de analisar dois aspectos muito interessantes que se destacam do artigo de Coeli e cols. (2). Primeiro, o fato de que a incidência de CT não é desprezível no Brasil, levando-nos a especular sobre suas causas e, segundo, o fato de que a mortalidade por esta neoplasia vem diminuindo nos últimos anos.Uma tendência de elevação na incidência do CT tem sido reconhecida em várias partes do mundo (3). Estudos recentes mostram que esta tendência tem se mantido nas últimas décadas nos EUA (4), no Canadá (5), na Europa (...