Em dezembro de 2019, o planeta foi tomado pela disseminação da pandemia de COVID-19. Essa realidade gerou mudanças das mais diversas, inclusive no modo de se despedir dos mortos - o ritual fúnebre. Tais mudanças não passaram despercebidas, uma vez que afetaram as relações sociais e trouxeram consequências emocionais aos que viveram tal realidade. A partir disso, a escrita deste trabalho teve como objetivo entender os possíveis novos ritos e suas consequências na elaboração do luto diante da morte de pessoas queridas em decorrência do vírus Sars-Cov-2. Para isso, de maneira mais específica, buscamos analisar a importância dos ritos para a elaboração do luto pela morte de alguém e investigar se há novos ritos e quais são esses ritos em decorrência da impossibilidade de velório por morte de COVID-19. Assim, trata-se de uma pesquisa qualitativa que faz uso do método psicanalítico. A partir do levantamento bibliográfico, foram realizadas entrevistas com três voluntárias que contaram sua experiência frente à impossibilidade de realização de luto após a morte de um ente querido. Com base nas narrativas das entrevistadas a análise de dados foi feita. Assim, discutimos sobre Reflexões sobre o luto comum e o luto patológico, A importância dos rituais e O impacto da pandemia no ritual fúnebre. Dessa maneira, compreendemos que mesmo buscando novas formas de se despedir, elas não sentiram que de fato se despediram das pessoas falecidas. Nesse sentido, é notável o sofrimento psíquico gerado pelo impedimento da realização de velório de modo comum e tradicional. Nota-se que o sofrimento psíquico é atrelado ao sentimento de culpa por não ter proporcionado o que seria um ritual de despedida fúnebre considerado digno. Para além desse fator, há também a solidão no enfrentamento da morte decorrente da necessidade de distanciamento social, o que, consequentemente, dificulta o processo de elaboração do luto.