Exposição a agrotóxicos e agravos à saúde em trabalhadores agrícolas: o que revela a literatura?

Abstract

Resumo Introdução: a relação entre agrotóxicos e agravos à saúde tem sido investigada em diferentes contextos. Objetivo: reunir evidência científica relevante sobre agravos à saúde associados à exposição ocupacional aos agrotóxicos. Métodos: revisão de literatura de estudos publicados entre 2000 e 2017, nas bases PubMed, Embase e LILACS. Estabeleceu-se como critérios de elegibilidade: a) estudos observacionais; b) população de trabalhadores agrícolas; c) exposição ocupacional; d) agravos à saúde definidos como desfecho; e) comparação estatística de expostos com não expostos; f) idioma inglês, português ou espanhol. Resultados: 59 publicações foram elegíveis - 33 estudos transversais, 22 de coorte e 4 caso-controle. Discussão: os estudos indicam que trabalhadores rurais apresentam maior risco para alguns agravos crônicos (câncer, doenças mentais, neurológicas, endócrinas, renais, auditivas, respiratórias e autoimunes), efeitos subclínicos (danos genéticos e alterações bioquímicas) e sinais e sintomas clínicos de intoxicação aguda. Também foram identificadas limitações dos estudos quanto à avaliação da exposição e do desfecho, delineamento e amostragem. Conclusão: as evidências sugerem a necessidade de se complementar a avaliação da saúde dos trabalhadores expostos aos agrotóxicos utilizando biomarcadores de efeito de genotoxicidade e citotoxicidade, a fim de promover e ampliar a vigilância da exposição e das intoxicações crônicas e suas prevenções.

Os agrotóxicos mais vendidos no Brasil: Implicações em meio ambiente e saúde

“…Os resultados da sistematização das buscas dos produtos, considerando seus ingredientes ativos, mais vendidos desde 2009 (Tabela 1) mostram que, devido ao pequeno número e até inexistência de trabalhos específicos sobre a biodegradação de cada um destes compostos nas plataformas de busca consultadas pode existir uma lacuna do conhecimento, demonstrando haver espaço para pesquisas na área. Já para agrotóxicos e saúde foram encontrados 63 trabalhos, dos quais apenas 30 foram utilizados para análise (Bochner & Freire, 2020;Brust et al, 2019;Corcino et al, 2019;Cunha & Soares, 2020, 2020Dutra & Ferreira, 2019;Ferreira et al, 2020;França et al, 2020;Freire et al, 2020;Freitas & Garibotti, 2020;García, 2019;Ismael & Rocha, 2019;Lima et al, 2020;Magalhães & Caldas, 2019;Miranda & Oliveira, 2019;Moura et al, 2020;Nascimento et al, 2019;Neves et al, 2020;Nogueira et al, 2020;Oliveira et al, 2020;Petarli et al, 2019;Piccoli et al, 2019;Pluth et al, 2019;Queiroz et al, 2019b;Ristow et al, 2020;Sena et al, 2019;Silva et al, 2019;Silvério et al, 2019;Soares et al, 2019;Vasconcellos et al, 2020).…”

“…Pesquisas já mostraram o grande impacto que os agrotóxicos tem sobre a saúde humana (Barbosa et al, 2020;Ramos & Lobo, 2019;Souza et al, 2020;Zanuto & Cabral, 2020). Esse prejuízo pode vir desde o contato direto com os químicos, em sua maioria por trabalhadores rurais (França et al, 2020;Freitas & Garibotti, 2020;Nogueira et al, 2020;Petarli et al, 2019;Ristow et al, 2020), como nos indivíduos consumidores dos alimentos em geral, visto que terão contato íntimo com os pesticidas por meio do sustento consumido (Queiroz et al, 2019b;Soares et al, 2019). Entretanto, é válido lembrar que estes produtos impactam também outros sistemas que podem trazer prejuízos com o contato, como a fauna, flora, ar, água e solo, trazendo consecutivos danos (Matias et al, 2019;Oliveira et al, 2020;Soares et al, 2020).…”

“…A exposição prolongada a pequenas doses de agrotóxicos causa várias consequências, impactando diferentes sistemas do organismo. A literatura exemplifica alterações teratogênicas, intoxicações exógenas, desregulações endócrinas, alterações neuropsíquicas, assim como afecções em sistema respiratório, sistema hematológico, favorecimento na carcinogênese e também problemas auditivos (Begnini & Almeida, 2016;Bochner & Freire, 2020;Corcino et al, 2019;Dutra & Souza, 2017;Ferreira et al, 2020;França et al, 2020;Lara et al, 2019;Lima et al, 2020;Magalhães & Caldas, 2019;Miranda & Oliveira, 2019;Neves et al, 2020;Nogueira et al, 2020;Piccoli et al, 2019;Pluth et al, 2019;Queiroz et al, 2019b;Sena et al, 2019;Silva et al, 2007;Silvério et al, 2019;Toichuev et al, 2018). Dentre estes alguns pontos são de elevada preocupação, como os malefícios causados na gestação, a relação com o câncer e também as intoxicações diretas.…”

“…Ademais, como já relatado, o risco de efeitos nocivos na saúde é maior para aqueles que têm contato direto com os produtos, no caso a exposição ocupacional dos agricultores. Dentre todos os danos causados as intoxicações exógenas, crônicas ou agudas, são altamente recorrentes no país (Begnini & Almeida, 2016;Bochner & Freire, 2020;Corcino et al, 2019;Lara et al, 2019;Lima et al, 2020;Magalhães & Caldas, 2019;Miranda & Oliveira, 2019;Neves et al, 2020;Nogueira et al, 2020;Queiroz et al, 2019a;Sena et al, 2019;Silva et al, 2019;Silvério et al, 2019).…”

“…É sugerida a associação destes químicos com o aparecimento de neoplasias de testículo, mama, esôfago, rim, tireóide, lábio, cabeça/pescoço e ossos (Pluth et al, 2019). Há também a confirmação entre a exposição aos agrotóxicos com o aparecimento da Doença de Parkinson (Nogueira et al, 2020;Vasconcellos et al, 2020). Além disso, existe a ototoxicidade dessas substâncias levando a perda auditiva ocasionada pelo seu constante manuseio (Sena et al, 2019;França et al, 2020;).…”