Nos últimos anos, a historiografia brasileira sobre a Guerra Fria tem sido marcada por um engajamento cada vez mais intenso com os debates a respeito da "Cultural Cold War" e de seus efeitos no continente latino-americano. Essa agenda foi impulsionada pela publicação das obras de Pierre Grémion (1995) e Frances S. Saunders (2000) sobre o papel do Congresso pela Liberdade da Cultura (CCF, 1950(CCF, -1967, posteriormente renomeado como International Association for Cultural Freedom, IACF), na organização e no financiamento de uma vasta rede formada por revistas de prestígio (Enconteurs, Preuves, Cuadernos), intelectuais e escritores de renome, editoras, prêmios, bolsas e demais dispositivos que forjaram a cena cultural global entre as décadas de 1950 e 1970 por meio da promoção de obras e valores que expressariam valores "democráticos" e "anti-totalitários".No caso latino-americano, o debate sobre a Guerra Fria Cultural ganhou contornos peculiares, seja pela natureza dessa tensão geopolítica numa região marcada pelos efeitos da Revolução Cubana sobre a vida cultural e literária da região, seja pela hegemonia dos Estados Unidos no continente, fator que tornava complexa a tarefa do CCF de identificar o liberalismo norte-americano com a defesa de valores democráticos (Iber, 2015). Esse caldo político-cultural singular foi investigado em trabalhos hoje clássicos, como o livro de Maria Eugenia Mudrovcic (1997) sobre a revista Mundo Nuevo (1966)(1967)(1968)(1969)(1970)(1971), uma dasCiências sociais e Guerra Fria: As fundações norte-americanas e a agenda racial no Brasil Social Sciences and the Cold War: US Foundations and the Racial Agenda in Brazil