A relação entre a mulher com diabetes e o seu corpo: o risco da diabulimia

Abstract

Resumo Objetivo compreender a relação que as mulheres com diabulimia têm com o corpo. Método pesquisa qualitativa, desenvolvida com o Método da História Oral Temática, com quatro mulheres entre 18 e 30 anos que autorreferiram diabulimia. Resultados a relação das mulheres com o seu corpo foi pautada pela pressão social de magreza feminina que distorce a autoimagem, gera insatisfação com o corpo e a diminuição da autoestima. A perda de peso é proporcionalmente associada ao aumento da aceitação social e justifica a utilização de métodos deletérios à saúde como a diminuição da dose ou a suspensão do uso de insulina. As narradoras demonstraram conhecer os riscos, mas admitiram repeti-la em determinados contextos. Considerações finais e implicações para a prática o desejo que as mulheres com Diabetes Mellitus têm de perder peso precisa ser incorporado às estratégias de cuidado com a atenção dos profissionais da saúde à subjetividade, atuando para reconhecer e prevenir os transtornos alimentares em mulheres com diabetes e minimizar a adoção de ações prejudiciais à saúde.

DIABULIMIA: a dieta da insulina

“…De acordo com a análise bibliográfica, a diabulimia é um transtorno alimentar caracterizado pela restrição deliberada do uso de insulina por pessoas com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) (Coleman & Caswell, 2020;Ribeiro et al, 2021). A diabulimia ainda não é considerada um diagnóstico formal de doença pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais -V (DSM-V) (Association, 2014), no entanto, por conta de sua crescente incidência na população diabética jovem, ganhou repercussão entre a comunidade acadêmica.…”

“…Os transtornos alimentares frequentemente estão associados à baixa autoestima proveniente da preocupação com o peso, com a imagem corporal e aceitação tanto pessoal quanto da sociedade sobre o seu corpo (Ribeiro et al, 2021). No caso dos pacientes DM1 deve-se considerar que, por conta da deficiência de insulina, geralmente os pacientes perdem peso antes do diagnóstico de diabetes, e ganham rapidamente quando começam o tratamento com a administração da insulina, resultando em uma rápida alteração corporal da forma e IMC, aumentando a baixa autoestima e, consequentemente, sintomas ansiosos e depressivos (Coleman & Caswell, 2020).…”

“…Isso ocorre especialmente por conta dos padrões corporais pré-definidos pela sociedade, que fazem com que mulheres que não atendem a essas expectativas sejam ridicularizadas (Association, 2014). Além disso, com o advento da internet e aumento das redes sociais entre a comunidade, há hoje uma cultura em torno do corpo perfeito na população mais jovem, fazendo com que práticas de restrição alimentar sejam ainda mais prevalentes (Ribeiro et al, 2021).…”

“…A manipulação do tratamento, com a diminuição das doses de insulina até sua restrição total é um processo que pode trazer consequências bastante negativas ao paciente em longo prazo, visto que é uma substância de fundamental importância em nosso organismo. Dentre algumas de suas consequências, podem-se citar quadros graves de cetoacidose diabética, desidratação, náuseas, vômitos, complicações microvasculares precoces (como retinopatias, neuropatias e nefropatias), até o risco de morte (Ribeiro et al, 2021).…”

“…A diabulimia sendo uma perturbação alimentar envolvendo a limitação ou cessação do uso de insulina em pacientes diabéticos tipo 1 tem como consequência sofrimento clinicamente significativo para esses indivíduos, como padrão alimentar irregular e cetoacidose diabética, a qual acontece quando o corpo produz cetonas em excesso, havendo, assim: cede, micção frequente, náuseas, dor abdominal, fraqueza e hálito cetônico (Martinez, 2013;Ribeiro, Pieper, Frederico, Gamba, & Rosa, 2021).…”