“…A situação torna-se bem mais delicada, na medida em que o Estado brasileiro não oferece, de forma transparente, democrática, organizada e responsável, políticas públicas de saúde (Viana & Baptiste, 2012) que, de fato, favoreçam a superação das disparidades sociais que, de modo persistente (Garrafa, 2005a) impedem o desenvolvimento do país e causam enorme prejuízo a qualidade de vida dos cidadãos, com destaque para os grupos mais vulneráveis (Freire, 1974;Freire, 2000). Em casos excepcionalmente mais graves, que exigiriam uma ação imediata do Estado, os "mortos vivos" (Mbembe, 2020) são simplesmente ceifados, como se suas vidas não importassem a ninguém e não pertencessem a lugar nenhum (Plan International Brasil, 2021) De modo geral, além das incertezas típicas de uma pandemia mundial, o Brasil teve que dar conta de um governo que, no seu negacionismo, militarismo e neoliberalismo (Hur, 2021), não demonstrou o devido interesse e empatia, especialmente com os mais desassistidos (Orellana et al, 2021); ao contrário, fez questão de ignorar as suas dores e perdas, além de desconhecer a justeza de suas lutas diárias (Freire, 2000) no enfrentamento individual e coletivo do agravamento e da ampliação dos problemas sociais, devido a "guerra" contra a COVID-19 (Vieira, Monteiro & Silva, 2021;Bispo Junior & Santos, 2021;Mendonça et al, 2021;Geovani et al, 2021;Guadenzi, 2021).…”