Uma Pandemia Viral em Contexto de Racismo Estrutural: Desvelando a Generificação do Genocídio Negro

Abstract

Resumo Para compreender o mundo contemporâneo é imprescindível voltar o olhar para a colonização das Américas e a escravização dos povos indígenas e negros, pois esses processos históricos e políticos construíram as estruturas das sociedades modernas. A partir da colonização produziu-se a racialização dos corpos, que estabeleceu uma hierarquia de vida e de morte. Logo, o racismo torna-se a base do direito de matar. O negro é fabricado como insígnia da morte, sendo desumanizado e submetido à violência racial-colonial e também à de gênero. Este ensaio se propõe a tecer reflexões sobre o modo como o racismo modula, e também é modulado, no contexto pandêmico da Covid-19, além de salientar um contínuo histórico de violências raciais que reencenam o passado colonial. Para isso, tomaremos como cerne do debate as experiências das mulheres negras, haja vista que suas posicionalidades nas estruturas de poder permitem observar e analisar as realidades sociais numa perspectiva contra-hegemônica e insurgente. Dispor as experiências das mulheres negras enquanto lócus privilegiado de produção de conhecimento sobre a realidade nacional brasileira alicerça o entendimento das consequências do racismo no tecido social, assim como visibiliza resistências históricas ao Estado genocida.

Análise crítica da produção acadêmica brasileira em psicologia (2020-2021)

“…Historicamente, a forma de vida capitalista enfrenta crises cíclicas periódicas, como parte de sua própria dinâmica de acumulação e reprodução social. Para cada momento de impasse, o capitalismo encontrou uma forma de absorver as forças que lhe são contrárias a seu favor e adaptar-se a uma nova configuração capaz de manter seu funcionamento disfuncional (Fraser & Jaeggi, 2020).…”

“…Estado; e tem sido assim com o capitalismo financeirizado e sua peculiar forma de vida neoliberal caracterizada por uma amálgama de desempenho e cansaço (Han, 2015;Fraser & Jaeggi, 2020). A crise financeira de 2008 poderia ter sido fatal para o capitalismo neoliberal, não fosse a rápida resposta das principais economias mundiais em "comprar tempo" para adiar o fim do capitalismo à custa da sobrevivência da democracia (Streeck, 2018).…”

PsicoQuilombologia: Escrevivência de uma Psicologia das Encruzilhadas em Tempos Pandêmicos

“…A pandemia de COVID-19 é uma emergência global que corroborou para as assimetrias sociais, afetando especialmente a população preta brasileira, que vive majoritariamente em situação de vulnerabilidade social, em comunidades restritas ao acesso à educação, serviços de saneamento básico, internet, moradias adequadas, proteção social, fragilidade e precarização dos direitos e condições trabalhistas, privação de liberdade, sucateamento dos serviços de saúde, invasão e violação arbitrárias a nossos territórios e corpos perpetradas pelas agências militares do Estado (Araújo, & Caldwell, 2020;Gonzaga, & Cunha, 2020;Santos, 2020;Bassi, Silva, & Lustosa, 2021).…”

O racismo estrutural e as mortes de negros por COVID-19

“…Quando são infectadas pelo novo coronavírus, pessoas negras têm o risco três vezes maior de serem internadas, em comparação a brancos (Pechim, 2020). Apesar de que para o sistema estão todos susceptíveis aos mesmos riscos e as políticas de ação e orientações se encaixam de forma igualitária a todas as esferas (Gonzaga & Cunha, 2020).…”

“…Apesar de que no contexto da pandemia da Covid-19, observou-se afirmações do tipo "estar todos no mesmo barco", frase que demonstra uma total falácia sobre ser um só povo e sofrer dos mesmos males, males ou seja, uma versão adaptada do mito da democracia racial. Como é estar todos no mesmo barco?, se acesso ao atendimento médico, saneamento básico para população preta ainda é insipiente e ainda quando estamos em situação de pandemia sanitária tem-se estes dados ocultados (Gonzaga & Cunha, 2020).…”