Manejo Clínico das Repercussões do Racismo entre Mulheres que se “Tornaram Negras”

Abstract

Resumo No Brasil, não há produção sistemática de conhecimentos, métodos ou estratégias para o manejo clínico das repercussões do racismo sobre a saúde mental da população negra. Esta é uma lacuna teórica e prática relevante, pois, quando o terapeuta não reconhece o racismo como produtor de iniquidades sociais, preconceito e discriminação, contribui para aumento de sofrimento psíquico de seu paciente negro e para a manutenção das desigualdades raciais. Neste relato, apresentamos a experiência de atendimento clínico de duas mulheres autodeclaradas negras, universitárias, através de técnicas da Psicoterapia Analítico Funcional (FAP) e Terapia de Aceitação e Compromisso (TAC). Na análise, buscou-se destacar aspectos gerais da condução dos atendimentos que pudessem auxiliar ou suscitar reflexão entre psicólogos de orientações teóricas diversas. O relato de experiência é apresentado em três partes: a) acolhimento e estabelecimento de aliança terapêutica; b) identificação do racismo como origem do sofrimento psíquico; e c) resultados das intervenções. Os principais resultados referem-se ao estabelecimento de vínculo seguro e saudável, ao aumento do repertório de habilidades sociais, à elevação da autoestima e ao desenvolvimento de capacidade de autocompaixão/autocuidado pelas pacientes. Recomenda-se desenvolvimento de sensibilidade e competência cultural entre os profissionais da saúde mental para diminuir as disparidades na quantidade e qualidade do atendimento psicoterápico prestado a esta população.

Experiências na formação de psicoterapeutas antirracistas

“…"Todavia, a combinação com as necessidades do paciente é que torna o gênero, a idade ou a etnia do terapeuta um possível indicador de resultados da terapia" (p. 128). No caso de uma díade interracial na qual o cliente é negro e o terapeuta branco, há estudos que afirmam que os clientes podem direcionar sua raiva para os terapeutas, pois eles simbolizam a cultura dominante, porém, o relacionamento interracial por si não anula a possibilidade de construir uma boa vinculação, pois há outros fatores que podem contribuir para uma boa aliança terapêutica (Tavares & Kuratani, 2019).…”

Colonialidade E Racismo No Brasil: A Raça Em Questão

“…Diante destes fatores, é necessário que os (as) psicólogos (as) contribuam para a compreensão e a desconstrução do racismo (CFP, 2017), desvelando as perspectivas que encobrem a perversa realidade racial, que coloca as mulheres negras na base da pirâmide desigual e os jovens negros entre os que mais morrem (WAISELFIZS, 2016), e interrogando as formações em Psicologia, que pouco discutem a problemática do racismo e a intensidade de seu dano (DAMASCENO; ZANELLO, 2018;TAVARES;KURATANI, 2019).…”

“…É importante articular os saberes elaborados historicamente acerca das relações raciais, seu impacto nas subjetividades, com a finalidade de compreender e colaborar para a desconstrução do racismo e seus efeitos psicossociais, uma vez que a Psicologia vem sendo convocada a dar respostas acerca desse fenômeno e a repensar suas bases epistemológicas eurocentradas (CFP, 2017;KON;ABUD;SILVA, 2017;TAVARES;KURATANI, 2019;PAIM FILHO, 2021).…”

Racism and Stressful Events Among Black Elderly People

“…Considering, thus, the experience of death and mourning in the black population, it is necessary to think about the multiple chronic mourning that they experience, and which are sometimes not taken care of, needing clinical mediation and mutual support for them to be concluded (Tavares & Kuratani, 2019). This context has been increasing an unhealthy aging and old age process for the black population that lives with the possibility of losses or with the loss itself at all times.…”