Cegueira, Acessibilidade e Inclusão: Apontamentos de uma Trajetória

Abstract

Resumo O artigo explora o tema da acessibilidade e da inclusão na era tecnológica, a partir de um inventário das minhas próprias vivências, tendo nascido cega, e, por obra da necessidade da educação especial, tendo sido alfabetizada através do método braile, depois enveredar na era tecnológica, onde se revelou, ora como campo de pesquisa, ora como seara para a militância, o tema da acessibilidade e da inclusão. Parto de uma premissa subjetiva já explorada anteriormente, a de pensar a cegueira como um lugar de onde posso olhar o mundo, avanço, porém, para a outra face da mesma: como o mundo tem olhado para a cegueira? Conclui-se apresentando um cenário ao mesmo tempo promissor e paradoxal para a acessibilidade e a inclusão. Pessoas cegas conquistaram a ciberesfera, desempenham-se bem na web, entretanto, barreiras de acessibilidade são forjadas todos os dias nos ambientes virtuais, o que impacta diretamente nas vidas laborais e socioculturais desses indivíduos. Persiste, na contemporaneidade, espécies de conjuntos de comportamentos cristalizados na cultura, os quais atravessaram toda a história da cegueira, e que podem ser configurados como o fenômeno da invisibilidade em múltiplos processos socioeconômicos e culturais.

Análise da acessibilidade dos serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) para servidores com deficiência visual

“…A trajetória da comunicação das pessoas com deficiência visual já ultrapassou a era de utilizar apenas a oralidade, ainda se debruça na era do relevo e, hoje, não se pode deixar de reconhecer que entrou na era da TIC. A acessibilidade disponível hoje para computadores e, mais recentemente, dispositivos móveis, favorecem que as pessoas com deficiência visual possam transitar pelos ambientes virtuais com igual desenvoltura das pessoas sem deficiência visual (Souza, 2018).…”

Barreiras tecnológicas

“…Os demais 12 estudos não selecionados para a formação das classes foram eliminados das análises sem prejuízo para o entendimento da revisão de literatura analisada. De acordo com os estudos não selecionados: • sete deles estão relacionados às barreiras tecnológicas em temáticas diversas (BARBOSA; MÜL-LER, 2018;MENDES, 2018;CARVALHO, 2003;NUNES, 2015;SOARES, 2016;SOUZA, 2018;MASCARENHAS et al, 2016) No tocante à deficiência que está sendo usada como variável nos estudos sobre barreiras tecnológicas, a literatura é contundente em demostrar que a deficiência visual é a mais evidenciada. O uso da técnica de sombreamento auxilia pesquisadores na evidência de problemas que PcD visual experimentam com as barreiras tecnológicas em vários momentos do seu cotidiano (SILVA; FERREIRA, 2017).…”

Para uma nova arte de viver: os espaços e as práticas de reabilitação da pessoa com deficiência visual

“…Ao passo que transformações de cunho individual e social podem ser identificadas, as novas tecnologias também coabitam com os entraves de seus avanços a sua apropriação por muitos daqueles que dela poderiam se beneficiar plenamente, tais como o elevado custeio das despesas de sua aquisição. A maior parte desses dispositivos têm preços proibitivos para a maior parte das pessoas cegas, advindas das camadas mais pobres da sociedade (Souza, 2018). E isso, além de consequências pessoais refletidas nas falas que se seguem, podem inviabilizar também a propulsão de suas atividades produtivas e de lazer, fundamentais para a dinâmica relacional, de reconhecimento de si como protagonista e para inclusão social almejada.…”

“…que permitem ao sujeito cego ou com baixa visão a leitura de textos impressos, o reconhecimento de rostos, cores, etc. (Souza, 2018;Arruda;Montilha, Research, Society and Development, v. 9, n. 8, e310985445, 2020 (CC BY 4. 1993) "[...] as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna a vida mais fácil, para as pessoas com deficiência a tecnologia torna a vida possível". Assim, com a introdução da TA, algumas pessoas com deficiência podem fazer atividades sem necessitar exclusivamente da ajuda de membros da família ou assistentes, podem assumir a parentalidade, melhorar sua dinâmica na educação, em ocupações ou no trabalho, evitar a institucionalização e participar de atividades recreativas ativas (D'amanda, Nolen & Huryn, 2020).…”