Narrar o outro: notas sobre a centralidade do testemunho para as narrativas jornalísticas

Abstract

Resumo Em sua dimensão contemporânea, o testemunho assume lugar central para as narrativas midiáticas, particularmente para o jornalismo. Este artigo propõe uma discussão em torno da narrativa de teor testemunhal em relatos jornalísticos que se insurgem pelo viés da subjetividade e dos afetos, contrariando a lógica de uma imprensa hegemônica pautada pela objetividade. Toma como ponto de partida uma reportagem onde a jornalista testemunha a morte da sua entrevistada. Essa narrativa nos permite elaborar pistas para pensar acerca do papel do testemunho e seus limites, reconhecendo que, quando valorizado no percurso da narrativa não apenas como procedimento de uma rotina jornalística mas enquanto experiência vivida e narrada, pode oferecer uma chave para colocar sujeitos em relação.

Proximidade no telejornalismo local e regional: uma proposta de sistematização

“…Este recurso mostra um território vinculado apenas com o aspecto geográfico, com certa limitação acerca de outros tipos de territórios, como o citado por Milton Santos (1994) em relação ao território vertical. Zelizer (1990, p. 38) diz que a autoridade do jornalismo emerge pelo fato dos jornalistas estarem próximos aos eventos e relatando o que veem -daí a noção de testemunha ocular e dos trabalhos que no campo da Comunicação lidam como o testemunho jornalístico (Peres, 2016). A autora descreve a entrevista de um executivo de uma rede de TV estadunidense que disse que "os jornalistas transmitem a sensação de que qualquer que seja o evento, 'eles estavam lá', e a história que eles trazem para o público 'por si próprios' porque 'viram' acontecer" (Zelizer, 1990, p. 38, tradução nossa).…”

O pessoal é político na Revista AzMina: legitimação pelo testemunho e demandas por reconhecimento nos textos sobre maternidade

“…De acordo com Peres (2016), o uso do testemunho pelo jornalismo permite a construção do relato de uma vivência de maneira singular e subjetiva -e nesse sentido é importante pontuar que se trata de um equilíbrio importante, já que o jornalismo, por si só, é uma atividade pautada hegemonicamente por regras de objetividade:…”

“…É interessante pontuar que testemunho, em latim, é representado por dois termos, superstes e testis. O supertes tem relação com o discurso dos indivíduos ou grupos sociais que sobreviveram a um trauma ou a uma situação difícil e precisam relatar sua experiência, enquanto o testis diz respeito ao depoimento de um terceiro que se coloca entre duas partes, disposto a julgá-las (PERES, 2016). O primeiro caso é o que mais se aproxima do testemunho frequentemente empregado pelo jornalismo.…”

“…O primeiro caso é o que mais se aproxima do testemunho frequentemente empregado pelo jornalismo. Ele levanta questões relacionadas à ética, à memória e à linguagem no contemporâneo, mas, para Peres (2016), agrega também ao que pode ser chamado de uma atualização da forma de narrar. A autora lembra ainda que Walter Benjamin decretara a extinção da arte de narrar no período moderno com o surgimento do romance e da informação jornalística.…”

Alterity, Otherness and Journalism: From Phenomenology to Narration of Modes of Existence

“…Camila Freitas and Marcia Benetti Charaudeau, 1991;Costa, 2010;Gomes, 2012;Hazell, 2009;Jodelet, 1998;Lago, 2014;Lévinas, 1987;Resende, 2014;Marcondes Filho, 2016;Martino, 2016;Peres, 2016;Prado & Bairon, 2007;Ricoeur, 2006;Sodré, 2007;Treanor, 2006) are engaged in discussing alterity and raising questions on the identity, visibility, representation, disappearance, sameness and apprehension of the "other". In this paper, we think of alterity from the concept of otherness, the mode of existence which articulates the "self" with the identity of the other.…”