O presente trabalho teve como objetivo descrever o perfil de vendas de hidroxicloroquina e de notificações de suspeitas de eventos adversos relacionados à cloroquina e à hidroxicloroquina durante a pandemia da COVID-19. Trata-se de um estudo descritivo que utilizou dados extraídos do Painel de vendas de medicamentos industrializados e do Painel de notificações de farmacovigilância. Foram vendidas 1.862.978 caixas de hidroxicloroquina entre 01/04/2020 a 31/08/2021, sendo que em média 109.586 caixas foram vendidas por mês (mediana=110.318; mínimo=72.042; máximo=187.752). Em relação às notificações, foram realizadas 1.064 notificações que envolviam cloroquina ou hidroxicloroquina entre 01/03/2020 a 31/08/2021. Mais da metade delas (n=617;57,8%) foram documentadas até junho de 2020, enquanto que apenas 40 foram registradas entre janeiro a agosto de 2021. Esses achados estão condizentes com as evidências científicas, visto que estudos in vitro e preliminares, publicados no início da pandemia, encontraram resultados promissores a respeito do uso desses medicamentos. Contudo, em meados de 2020, estudos mais robustos apontaram que esses agentes não eram eficazes para tratar nem prevenir a COVID-19, além de serem pouco seguros para o paciente. Diante disso, certamente, declinou-se o uso desses medicamentos em hospitais brasileiros. Tal fato justifica a redução do número de notificações envolvendo esses medicamentos, uma vez que a detecção e notificação de eventos adversos, frequentemente, ocorrem no âmbito hospitalar, onde o paciente é monitorado constantemente. Porém, o perfil de vendas se manteve elevado durante o período avaliado. Isso denota o quanto que o incentivo social e político influenciou os brasileiros a usarem esses medicamentos.