A feminização do jornalismo sob a ótica das desigualdades de gênero

Abstract

Resumo: Não obstante a escassez de pesquisas nacionais debruçadas em elucidar as desigualdades que incidem na trajetória de mulheres jornalistas em um cenário de reestruturação das empresas de comunicação e gradual feminização das redações, também chama atenção a ausência de sistematização das instâncias nas quais se expressam tais injustiças. Amparado na literatura internacional sobre jornalismo e gênero, em dados obtidos em estudos realizados na última década no Brasil, além de resultados de relatórios e surveys focados na apreensão das condições de trabalho das mulheres jornalistas, no presente artigo se pretende operacionalizar quatro vetores de análise das desigualdades que atingem as profissionais do setor: no campo da divisão sexual do trabalho, nas culturas organizacional e profissional, e no plano das rotinas produtivas.

Gender and journalism: the difficulties faced by women in positions of power

“…De acordo com Lelo (2019), alguns fatores dentro da cultura organizacional contribuintes para a perpetuação de desigualdades de gênero dentro do jornalismo são: a cultura organizacional que valoriza a figura masculina; a segregação vertical; a desigualdade salarial, independentemente do grau de qualificação acadêmica/profissional; a homossocialidade masculina; o exercício de "rituais de reparação" em cargos de chefia; e a avaliação do desempenho fortemente atrelada ao gênero.…”

Repensando a ética jornalística tradicional: posicionamentos editoriais no jornalismo feminista brasileiro contemporâneo

“…De fato, segue-se esta mesma perspectiva: como argumenta Ross (2001), as mulheres ainda são vistas como "intrusas" na profissão. Dessa forma, é possível pensar no jornalismo mainstream em si como uma instituição generificada (Allan, 1998;De Vuyst & Raeymaeckers, 2019;Jenkins & Finneman, 2018;Lelo, 2019;Mahtani, 2005;Ruoho & Torkkola, 2018), uma vez que mantém-se a lógica de que um determinado tipo de "feminilidade", aquela que refere aos papéis tradicionais de gênero atribuídos ao sexo feminino, não é compatível com a ideologia que rege o jornalismo, ao mesmo tempo em que se procede com uma normalização deste binarismo de gênero (Lobo et al, 2017).…”