2019
DOI: 10.1590/1678-49442019v25n3p743
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O Corpo do Patriarca: uma etnografia do silêncio, da morte e da ausência

Abstract: Resumo Este artigo inicia-se com uma descrição, mediada por fontes on-line, do enterro do músico Dorival Caymmi e com o relato de uma visita que fiz ao local de sua morte, um apartamento no Rio de Janeiro. Em seguida, trato de problematizar e complexificar - à luz das noções clássicas de corpo e pessoa, bem como de um aparato conceitual inspirado nas formas de conhecimento do candomblé brasileiro - a figura pública deste artista, ora subdividindo, ora multiplicando-a em entidades analíticas diversas. Apresenta… Show more

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“…É possível afirmar também, encarando a mesma questão por uma perspectiva complementar, que, além de manter, como seus ancestrais yorubás, esta "percepção da vida enquanto uma totalidade circular cujas faces tanto mascaram quanto desvendam umas às outras" (Pelton, 1980: 104), o povo de axé cultiva a perseverança por meio de uma temporalidade lenta e cíclica. Desde o aprendizado paciente, não formalizado, baseado no acúmulo de indícios e explicações parciais ao longo dos anos -aquilo que nos candomblés se chama "catar folha" (Goldman, 2005;Queiroz, 2019) -até a formação conjunta da pessoa ritual de um fiel, com seu otá, seus assentamentos, seu corpo e seu próprio orixá, entende-se que o tempo de se fazer uma coisa firme e durável (de se aprontar um ente) deve ser prolongado e gradativo. Estamos muito longe do tempo apocalíptico, acelerado e progressivo que caracteriza outros credos.…”
Section: O Fim Da Vidaunclassified
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“…É possível afirmar também, encarando a mesma questão por uma perspectiva complementar, que, além de manter, como seus ancestrais yorubás, esta "percepção da vida enquanto uma totalidade circular cujas faces tanto mascaram quanto desvendam umas às outras" (Pelton, 1980: 104), o povo de axé cultiva a perseverança por meio de uma temporalidade lenta e cíclica. Desde o aprendizado paciente, não formalizado, baseado no acúmulo de indícios e explicações parciais ao longo dos anos -aquilo que nos candomblés se chama "catar folha" (Goldman, 2005;Queiroz, 2019) -até a formação conjunta da pessoa ritual de um fiel, com seu otá, seus assentamentos, seu corpo e seu próprio orixá, entende-se que o tempo de se fazer uma coisa firme e durável (de se aprontar um ente) deve ser prolongado e gradativo. Estamos muito longe do tempo apocalíptico, acelerado e progressivo que caracteriza outros credos.…”
Section: O Fim Da Vidaunclassified
“…6 Cf. Queiroz (2019) e Rabelo (2014). Enredo é outro conceito operante na maioria das religiões afro-brasileiras.…”
Section: Notasunclassified
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“…Sabendo, ainda, que os mitos sempre transbordam, produzindo ou sendo produzidos por excedentes simbólicos que se relacionam dialética e transversalmente com gestos rituais e conjunturas históricas específicas, seria também necessário refletir sobre a performatividade envolvida na narração desse itan, a renovação constante do pensamento mítico nas religiões afro-brasileiras e a estrutura ou o devir organizacional das comunidades de terreiro. Neste artigo, o mito de Iku e da Covid-19 servirá como uma linha de baixo, um bordão que apoiará minhas observações a respeito daquilo que tenho chamado de experiências raciais (Queiroz, 2019b;2019c), juntamente com os elementos implicados em suas formas possíveis de comunicação. Para tanto, utilizo como exemplo a trajetória de Dorival Caymmi (1914Caymmi ( -2008, músico baiano que viveu o século XX praticamente todo e pôde acompanhar processos de racialização bem diversos.…”
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“…Para Larissa Nadai et al, a vinculação do silêncio ao "reino do incognoscível, da falta ou ausência de linguagem" (2019, p. 838) pode ser questionada se o elevarmos a um patamar heurístico focado no caráter produtivo contido no ato de silenciar. Em outras palavras, propomos pensar de que maneira o silêncio -tratado aqui como um viés analítico-metodológico (Queiroz, 2019b) -acerca de determinadas marcas sociais de Pixinguinha e Caymmi figurou como uma dimensão crucial de suas experiências raciais. Evitando repisar narrativas de invisibilização, nas quais sujeitos subalternizados são reduzidos a meros objetos sem agência, queremos sugerir que o silêncio sobre a negritude foi mobilizado, de modos peculiares, também pelos artistas, tornando-se constitutivo do próprio processo de consagração deles.…”
unclassified