Desconstruindo o alcoolismo: notas a partir da construção do objeto de pesquisa no contexto indígena

Abstract

A partir de uma revisão de conceitos utilizados na pesquisa sobre o uso de bebidas alcoólicas e de trabalhos nacionais que abordam a questão do uso de álcool por populações indígenas, evidencia-se a dificuldade gerada pelo uso indiscriminado da noção de alcoolismo. Apresenta-se uma proposta inicial de um modelo teórico no qual são articulados os conceitos de dependência, problemas relacionados ao uso de álcool e alcoolização, que vêm pautando os autores na construção do objeto de pesquisa no campo da saúde indígena na região do Alto Rio Negro, noroeste do Estado do Amazonas.

Saúde mental em contextos indígenas: Escassez de pesquisas brasileiras, invisibilidade das diferenças

“…Segue a tabela com o resumo dos dados levantados (Tabela 2). Em relação às etnias pesquisadas, 50% dos artigos, ou seja, sete artigos, (Bonfim, 2011;Guimarães & Grubits, 2007;Souza, Deslandes, & Garnelo, 2010;Souza & Garnelo, 2006Souza & Orellana, 2012;Souza, Schweickardt, & Garnelo, 2007) não cita a etnia sobre a qual realizaram a pesquisa. Isso acontece por alguns motivos: ou o artigo se refere a indígenas de determinada região -por exemplo, Alto Rio Negro -e não se especifica a(s) etnia(s) envolvidas, ou porque se trata de um artigo teórico referente aos indígenas brasileiros, de maneira geral.…”

“…Da mesma forma, pode-se pensar que a categoria faixa etária (da forma marcada como a compreendemos) diz respeito a uma elaboração não indígena que não encontra muito sentido nos contextos indígenas, e por isso não é abordada. Dos 14 artigos, observamos que a minoria é teóri-ca -cinco artigos - (Bonfim, 2011;Guimarães & Grubits, 2007;Souza & Garnelo, 2006;Souza & Orellana, 2012) em relação aos trabalhos com pesquisa de campo -nove artigos - (Andrade & Bueno, 2007;Azevêdo, Caixeta, Andrade, & Bordin, 2010;Diehl & Grassi, 2010;Grubits & Noriega, 2011;Melo, Maciel, Oliveira, & Silva, 2011;Rodrigues & Carlini, 2006;Souza, et al, 2010;Vianna, Cedaro, & Ott, 2012). Por um lado, esse resultado reflete a urgência das demandas indígenas que, muitas vezes, têm interesse que profissionais estejam em campo.…”

“…Em relação ao número de artigos que se utilizam (explicitamente ou implicitamente) dos critérios do DSM, observa-se certo equilíbrio entre aqueles que os usam para embasar suas discussões -seis artigos - (Andrade & Bueno, 2007;Azevêdo et al, 2010;Bonfim, 2011;Diehl & Grassi, 2010;Rodrigues & Carlini, 2006;Souza & Orellana, 2012) e aqueles que mostram um esforço multidisciplinar para orientar seus posicionamentosoito artigos (Guimarães & Grubits, 2007;Melo et al, 2011;Souza & Garnelo, 2006;Souza et al, 2010;Souza, Grubits, & Noriega, 2011;Vianna et al, 2012), considerando a influência e dinâmica cultural para explicações dos fenômenos. Estes artigos, apesar de recorrerem a outros sistemas explicativos para discorrerem sobre aspectos vinculados à saúde mental em contextos indígenas, não problematizam em si o conceito de saúde mental, com exceção de um (Vianna et al, 2012), como se esta fosse uma instância preexistente, "ateórica", sem necessidade de contextualização.…”

Jurupari se suicidou?: notas para investigação do suicídio no contexto indígena

“…Investigating suicide in the indigenous context becomes, if possible, even more complex as there is classical (Mead, 2001) and contemporary (Souza and Garnelo, 2006; evidence indicating the difficulties of transposing the biomedical classifications and concepts which reign in modern Western society (Dumont, 1993) in the specific and relational socio-cultural universes of indigenous societies. Whereas biomedical classifications based on a biological and universal perspective of disease are guided by the modern notion of the individual, in in-digenous societies, the health-disease-death process is understood through specific symbolic references (Helman, 2006) which inform the kinship relationships responsible for constructing the individual as a social being (Seeger et al, 1987).…”

Reflections on intervention strategies with respect to the process of alcoholization and self-care practices among Kaingang indigenous people in Santa Catarina State, Brazil

“…Literature review from different fields that analyze this question among Brazilian indigenous peoples reveals a lack of consensus on the meaning of "alcoholism" and the ways to identify it. The category, which refers to an individual disease with an invariable clinical presentation and a natural and chronic prognosis, has proven problematic and anachronistic even for some sectors of biomedicine 3 . Studies show that the term "alcoholism" emerged in Brazil in the 19 th century through a process that turned a popular custom into a "disease" in order to raise social, political and economic standards.…”