Corpo, formas, movimentos e ritmo como precursores da emergência da intersubjetividade e da palavra no bebê. (Uma reflexão sobre os inícios da linguagem verbal)

Abstract

Depois de lembrar as bases da comunicação analógica e digital, os autores apresentam as hipóteses de seu programa de pesquisa atual a respeito dos precursores corporais e comportamentais do acesso à linguagem verbal na criança. As análises do olhar, das vocalizações e dos movimentos das mãos do bebê são os principais elementos estudados nesta pesquisa colaborativa. O surgimento da intersubjetividade parece depender fundamentalmente de um equilíbrio entre os processos de desmantelamento intersensorial e de segmentação intrasensorial dos diferentes fluxos perceptivos.

Presença/Ausência Materna E Os Processos De Subjetivação

“…Anteriormente B. Golse (2006) havia proposto uma discussão sobre a teoria do a posteriori desde o período pré-natal, na medida em que seriam as inscrições sensoriais no feto que constituiriam o primeiro tempo de um traumatismo construtivo e estruturante, primeiro tempo em espera do encontro pós-natal com as irregularidades da presença do objeto externo, que seria então um segundo tempo dessa experiência do desenvolvimento emocional. O autor sugere que essa hipótese retoma a tripartição dos processos psíquicos descrita por P. Aulagnier, dos pictogramas até os enunciados, passando pelos cenários fantasmáticos, correspondendo aos registros originário, primário e secundário (Aulagnier, 1975).…”

“…(Golse, 2006). Essas compreensões levam a situar o início do trabalho do psiquismo à necessidade, para o bebê, de tratar e de transformar as primeiríssimas informações sensoriais, as primeiras 'excitações', que se tornarão posteriormente as excitações pulsionais (Prat, 2007).…”

“…Em um bebê a experiência sensorial passa a ser um fator subjetivante na medida em que se dá uma adequada integração de suas polisensorialidades com o papel rítmico integrador do ambiente materno (Golse, 2006) e que ele experimenta a vivência de um pleno compartilhar afetivo. Nesse tempo dos laços iniciais os sujeitos e objetos psíquicos, compreendidos como componentes de uma relação objetal, não estão ainda constituídos no bebê.…”

“…Segundo B. Golse (2006), a pulsionalidade, entendida como a dimensão pulsional do funcionamento corporal e psíquico do sujeito, se expressaria pelo ritmo, que se mostraria assim como "um elemento central na estrutura dos processos de atenção e seria indispensável aos processos de comodalização perceptiva entre mãe e bebê, e portanto à construção da intersubjetividade" (Golse, 2006, p. 262). E essa ritmicidade assim composta teria função fundamental em relação ao sentimento de ser e de continuidade, e ao sentimento de segurança interna do bebê que permite sua abertura ao mundo.…”

“…Isto é, o bebê humano tem a possibilidade de extrair de suas sensações tácteis, por exemplo, uma estrutura morfológica que ele identifica depois quando entra em contato com sensações visuais, o que corresponde, de certa forma, a um verdadeiro trabalho de abstração. (Golse, 2006). Podemos supor que o ritmo é que faz ligação nas 'áreas' da transmodalidade, é o que favorece a progressiva integração das várias experiências sensoriais que se apresentam nos poros, orifícios e partes do corpo do bebê.…”