Notas sobre clínica e política

Abstract

As questões e problemas colocados pelo capitalismo contemporâneo para os mentaleiros ou pessoas que participam do movimento da reforma psiquiátrica brasileira são arrepiantes: os bicos dos peitos e a língua de fulana cortados com canivete, penetrada por cinco ou seis rapazes e as mulheres reanimando-a com água fresca. Polícia sentando dedo na favela cobrando pedágio e metendo aquele pânico em todos. Ε as que têm que dar para o padrasto... Fulaninha, 12 anos, chega ao posto de saúde de semana em semana over de um pó imundo, amarelado e pedra, pedra, muita pedra. Suzane Louise Von Richtofen. 1 Isto é loucura no Brasil de hoje. * Contribuição para o debate, apresentada no III Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre em janeiro de 2003, numa reunião com o tema: "Clínica, Política e Capitalismo Contemporâneo: Resistências no/do campo da Reforma Psiquiátrica Brasileira". 1. No momento em escrevia estas linhas a opinião pública estava estremecida: Suzane e seu namorado foram acusados do brutal assassinato dos pais dela. A mãe era psiquiatra e o pai executivo.

Os efeitos da contrarreforma psiquiátrica na política de redução de danos no campo do álcool e outras drogas

“…Como bem sintetiza Antonio Lancetti (2008), a estratégia de redução de danos veio para transformar a psiquiatria.…”

Cartografando uma produção de redes vivas do cuidado

“…Entretanto os usuários produzem-se "em-mundos", "in-mundizam-se" e criam para si, através de suas formas éticas existenciais, a sua própria produção de cuidado que está em disputa o tempo inteiro com diferentes formas e lógicas de existir, e que lhe são impostas, muitas vezes, pelas instituições (Merhy et al, 2014). Lancetti (2006) diz que o usuário da saúde mental além de ser um nômade pelas redes de cuidado é também um forte protagonista de sua produção. Muitas vezes as equipes de saúde não conhecem esse território que se configura como uma rede rizomática, tomado como produção de agenciamentos, e que não se deixa capturar em um único território (Merhy et al, 2014).…”

“…Algumas experimentações ocorridas no território através do encontro com o outro é explorado por Lancetti (2006) em seu livro "Clínica Peripatética". Umas das fontes dessa Clínica operada em movimento, fora do consultório, é o Acompanhamento Terapêutico que por si só é peripatética (no sentido etimológico, peritatéõ: passear, ir e vir conversando).…”

“…Trata-se de um complexo de variáveis externas ao indivíduo, em geral ligadas ao contexto familiar e da comunidade, sendo passíveis de transformação através de um processo de intervenção (Lussi, Pereira & Pereira, 2006). Lancetti (2006) afirma que as ações de saúde mental que acontecem no território -geográfico e existencial -são ações complexas e que nesse atravessamento de territórios é preciso fabricar mundos. Ou seja, é preciso também fabricar novas e diversas formas de pensar e produzir o cuidado em saúde.…”

“…Claro que nem todos os usuários de um serviço demandarão tantos cuidados e articulações com outras redes, é para isso que o conceito de equidade deve estar sempre presente também nas reuniões de equipe para discussão de casos. Lancetti (2006) nos sinalizou ao falar de CAPS turbinado, a complexidade de um caso deve instigar o serviço a realizar múltiplas articulações, com outras redes para que o cuidado seja realizado integralmente. Isso demanda também disponibilidade e inventividade.…”