A noção de perda de contato vital com a realidade e suas aplicações em psicopatologia

Abstract

I-O contato vital com a realidade Propomos expor neste trabalho nosso modo de conceber o distúrbio essencial da esquizofrenia, assim como os mecanismos psicopatológicos que determinam as particularidades dessa afecção. Kraepelin havia chegado a uma noção sintética, muito vasta, da demência precoce, resultado de uma fusão de formas clínicas particulares que, no período anterior, tinham sido consideradas mais ou menos independentes umas das outras, como a catatonia, a hebefrenia e a demência paranóide. As formas ditas simples da demência precoce vieram juntar-se a elas. Essa síntese coloca um novo problema. Devido à fusão, numa mesma noção, de formas clínicas em aparência inteiramente diferentes, os sintomas e mesmo as síndromes, supostamente características para cada uma delas, perdiam seu valor. Os sintomas são, como diz Kraepelin, intercambiáveis, mais ou menos inconstantes e levam a estados terminais idênticos. Então todos devem ter algo em comum, sendo apenas a expressão mais ou menos acidental de * Tradução de Martha Gambini. Revisão técnica pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira (Laboratório de Psicopatologia Fundamental-FCM/Unicamp). Publicado originalmente em Para além do racionalismo mórbido (no prelo, São Paulo: Escuta).

Tempo, Sofrimento e Ímpeto Vital: Investigações Fenomenológicas em Minkowski

“…Sua atitude geral diante do futuro estava transtornada: o tempo que para nós constitui um fenômeno integrado em um todo progressivo, para ele estava rompido em fragmentos soltos (Minkowski, 1967). Minkowski (2004) também notou, mais tarde, esta relação característica com o tempo nos casos de esquizofrenia. A perda da mobilidade, a fixidez das coisas ao redor do mundo do esquizofrênico não lhe permite vislumbrar o futuro.…”

“…Eles batem nas fibras da personalidade que, penetrada pelos acontecimentos, vibram com eles em uníssono. Vibram todos de forma pessoal, por meio dos atos, "pelos risos ou pelas lágrimas" (Minkowski, 2004, p. 134) que são colocados nessa onda do ambiente, perdendo-se nele como uma gota em um oceano infinito (Minkowski, 2004).…”

“…Minkowski recorreu a Bergson para compreender esse tratamento à inteligência. Ele afirma que em sua noção de tempo e contato vital, o filósofo o influenciou fortemente, assim como Bleuer durante sua estada em Zurique (Minkowski, 2004).…”

A dramaticidade como essência: uma análise fenômeno-estrutural da histeria

“…These concepts are connected with the others addressed above and can be arranged into two fields: syntony, horizontality, and light space; schizoidism, verticality, and dark space. Minkowski outlines this conceptual interrelationship by defining "vital contact with reality" (Minkowski, 2004) as this mobile wave that surrounds us from all sides and constitute s the environment we could not live without. From it, like islands, emerge 'events,' shaking the most intimate fibers of our personality, penetrating it [...].…”

Possibilidades de tratamento a pacientes com experiências alteradas de espaço

“…Largamente estudadas na psicopatologia fenomenológica (Binswanger, 1963;Boss, 1977;Minkowski, 2004;Tellenbach, 2014), as experiências alteradas de espaço são evidenciadas como sensações de estranheza dos lugares habituais, que podem variar desde reconhecer o mundo como se a pessoa vivesse "atrás de um vidro espesso", ter uma sensação de estranheza pelo próprio corpo ou até vivenciar a experiência de sentir-se um "ponto infinito" no universo (Tellenbach, 2014), e experenciar objetos como se fossem fragmentados, dispostos num plano infinito ou alheios a si mesmo (Sass & Pienkos 2013), incluindo a incapacidade para lidar com objetos do cotidiano, como canetas e talheres. (Blankenburg, 2013) As experiências alteradas de espaço são, geralmente, encontradas em quadros considerados psicóticos ou do espectro esquizofrênico, no interior da psicopatologia clássica.…”