RESUMO -Este artigo tem o objetivo de apontar contribuições da fenomenologia de Merleau-Ponty para a psicopatologia cultural. Discutimos alguns temas presentes nessa filosofia associados a ideias contidas nas pesquisas recentes em psicopatologia cultural, tais como corpo, liberdade, linguagem, arte e cultura. Destacamos a discussão realizada por Merleau-Ponty acerca das obras do pintor Paul Cézanne como contribuição para um novo olhar sobre a psicopatologia cultural, ressaltando a ambiguidade presente nos processos de adoecimento e nas distintas nuanças que se entrelaçam na experiência vivida de sofrimento.Palavras-chave: fenomenologia, Merleau-Ponty, psicopatologia culturalThe Merleau-Ponty's Phenomenology Lens to Cultural Psychopathology ABSTRACT -This paper aims to present contributions of Merleau-Ponty's phenomenology to cultural psychopathology. We discuss some themes of this philosophy associated to ideas presented in recent studies in the field of cultural psychopathology such as body, freedom, language, art, and culture. We highlight the discussion found in Merleau-Ponty's phenomenology about Paul Cézanne's paintings, as a contribution to a new outlook to cultural psychopathology, which considers the ambiguity in illness processes and in nuances which are intertwined in lived experience of suffering. Entendemos a psicopatologia cultural como uma área que contempla estudos em psicologia, psiquiatria, antropologia, e demais áreas do saber, que convergem em pesquisas concernentes às relações entre questões culturais e psicopatologia. Como nos lembra Kirmayer (2006), toda experiência humana é culturalmente constituída. Assim, é impossível a compreensão da psicopatologia sem considerarmos os aspectos culturais que a atravessam.
KeywordsLópez e Guarnaccia (2000) problematizam o diagnóstico nos manuais psiquiátricos, esclarecendo que as categorias neles contidas eram universalizantes, desconsiderando a importância da cultura na compreensão dos distintos quadros de transtornos mentais. Houve um forte movimento para que essas categorias psicopatológicas fossem mais contextualizadas, principalmente por parte de alguns psiquiatras que já realizavam pesquisas na área de antropologia médica e psiquiatria cultural, em instituições como Harvard,