Avaliação do efeito do uso de agrotóxicos sobre a saúde de trabalhadores rurais da fruticultura irrigada

Abstract

Resumo O presente estudo refere-se ao impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana no Submédio do Vale do São Francisco. Por meio de entrevistas objetivou-se analisar a influência dos condicionantes sociais, culturais e econômicos no processo saúde-doença dos trabalhadores expostos a agrotóxicos. Para a coleta de dados foram entrevistados 339 trabalhadores rurais de perímetros irrigados dos municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE. Todos do sexo masculino, sendo 182 (53,7%) proprietários rurais e 157 (46,3%) empregados, predominando indivíduos entre 40 e 59 anos entre os proprietários e abaixo de 39 anos entre os trabalhadores. Mais de 50% apresentou baixo nível de escolaridade e 55,2% tinha rendimentos mensais menor ou igual a 2 salários mínimos. Muitos sabem da importância do uso de EPIs e da obrigatoriedade do receituário agronômico para a utilização e a compra de agrotóxicos, entretanto cerca de 40% não usam EPIs ou fazem uso de forma incompleta e 28,9% não apresentam receituário durante a compra. Mais de 9% dos participantes relataram casos de intoxicação, no entanto, menos de 7% procuraram atendimento especializado. Os trabalhadores sabem que o uso de agrotóxicos nas lavouras os expõem a situações de risco, mas essa informação não é suficiente para alterar a conduta no exercício laboral.

Perfil epidemiológico dos casos de intoxicação por agrotóxicos de 2013 a 2017 no Brasil

“…O processo produtivo químico-dependente adotado, majoritariamente, pelo agronegócio, considera os agrotóxicos como essenciais ao manejo e combate a pragas, bem como está relacionado ao aumento da produtividade. Todavia esse modelo de cultivo que utiliza de forma intensiva esses produtos químicos proporcionam malefícios relacionados tanto ao meio ambiente quanto à saúde de trabalhadores rurais e população em geral (FERREIRA;VIANA JÚNIOR, 2016;CORCINO et al, 2019).…”

Intoxicação exógena por agrotóxicos em trabalhadores rurais e relação com agregados produtivos locais em Pernambuco

“…A baixa escolaridade em trabalhadores rurais foi observada em diversos estudos 20,[27][28][29] . Indivíduos com baixa escolaridade e pouca qualificação técnica apresentam maior probabilidade de contato com agrotóxicos, pois estes normalmente são designados aos trabalhos mais insalubres, que envolvem aplicar agrotóxicos, preparar a calda, lavar embalagens e equipamentos contaminados ou lavar roupas utilizadas na aplicação, aumentando o contato com os produtos 27,28 . A presença de analfabetos entre os trabalhadores intoxicados é bastante preocupante e revela descumprimento da legislação, que proíbe estes de manipularem agrotóxicos de qualquer natureza 24,25 .…”

“…Além disso, ter uma baixa escolaridade dificulta o acesso às informações sobre agrotóxicos, como àquelas relacionadas às instruções de uso, recomendações de segurança e informações técnicas sobre o produto 22,27,28 . Destaca-se que, em julho de 2020, houve uma mudança na comunicação de risco dos agrotóxicos, com a remoção do pictograma da caveira com duas tíbias cruzadas de rótulos e bulas de produtos que apresentam menor potencial de causar morte imediata após exposição aguda.…”

Noções e uso de agrotóxicos: Um estudo de caso com agricultores familiares

“…A exposição humana aos agrotóxicos representa grave problema de saúde pública. Entretanto, o impacto desta exposição nem sempre é reconhecido dentre os nexos da produção de adoecimentos tanto pelos agricultores, como pelos profissionais de saúde e, por isso, essas demandas tendem a serem invisibilizadas e não respondidas no âmbito dos serviços de saúde (Corcino, et al, 2019;Fenzke, et al, 2018;Lopes & Albuquerque, 2018).…”