Embates Semiótico-Discursivos Em Redes Digitais Bolsonaristas: Populismo, Negacionismo E Ditadura

Abstract

RESUMO Este artigo discute práticas discursivas relacionadas ao bolsonarismo online, enquanto manifestação de um populismo digital de extrema-direita. Para tanto, são focalizados embates semiótico-discursivos instaurados em trajetórias textuais mobilizadas para significar os processos históricos relativos à Ditadura Civil-Militar brasileira (1964-1985). As interações analisadas foram desencadeadas a partir de uma postagem na conta oficial do presidente Jair Bolsonaro no Twitter, em 27 de março de 2019, às vésperas dos 55 anos do Golpe de 1964. Partindo de uma perspectiva teórico-metodológica pautada no rastreamento textual em redes digitais e em concepções pragmáticas e semióticas dos processos de significação, oferecemos algumas interpretações contingentes acerca do problema investigado. São elas: a cooptação de significantes vazios próprios da racionalidade populista para a instauração de negacionismos históricos estratégicos; a insistente (re)atualização de sentidos indexicais autoritários, antidemocráticos e antidireitos humanos nas trajetórias textuais e espaço-temporais do discurso bolsonarista online; e a fricção semiótico-discursiva nas disputas por enquadres metapragmáticos entre agentes discursivos bolsonaristas e seus oponentes em espaços públicos virtuais.

Dois caminhos da dissonância cognitiva no bolsonarismo

“…Um eleitor à direita que tenha optado por votar em Jair Bolsonaro nas duas eleições presidenciais em que este disputou não é, dentro deste enquadramento, necessariamente o bolsonaristamédio. É pressuposto fundamental da homogeneização do homemmassa repentinamente feito bolsonarista a adesão aos processos semióticos contidos na linguagem textual e visual (SILVA, 2020(SILVA, , p. 1176, não apenas por sua busca ao sentimento de pertença ao grupo, mas porque o grupo, enquanto massa, exige igualdade de todos.…”

Qual Ciência É Negada Nas Redes Sociais? Reflexões De Uma Pesquisa Etnográfica Em Uma Comunidade Virtual Negacionista

“…Em nossa pesquisa, consideramos relevantes todos esses tipos de discursos de ataque à ciência com motivações políticas. Brasil, Jair Bolsonaro (2019-2022, uma das caricaturas da pósverdade no contexto brasileiro, sendo diversas as pesquisas e reportagens sobre a proliferação de notícias falsas, negacionismos e desinformações que, no geral, são propagadas em suas redes sociais e em grupos on-line de apoio (Barragán, 2018;Cesarino, 2019Cesarino, , 2020Cesarino, , 2021Dibai, 2020;Fernandes, Oliveira, Campos, & Coimbra, 2020;Martins, 2020;Recuero et al, 2020;Silva, 2020;Szwako, 2020;Viscardi, 2020). Sabendo que essas declarações podem constituir-se como parte de uma estratégia política para minar a confiança da população na ciência e com isso fazer avançar projetos políticos, econômicos e sociais (Pivaro & Girotto Jr., 2020a), nos perguntamos como o discurso de ataque à ciência se constrói dentro de comunidades virtuais ideologicamente alinhadas ao presidente.…”