O objetivo desse artigo é discutir conflitos dialógicos vivenciados por homens privados de liberdade em um sistema prisional no qual a pessoa assume dupla posição: cumpre sua pena, mas participa da administração da instituição penal, como responsável pela segurança. É um dos resultados de uma pesquisa qualitativa, que consistiu em um estudo de caso no método alternati- vo de cumprimento de pena privativa de liberdade. Discutiremos aqui, seletivamente, resultados de um percurso de 12 visitas à instituição para observar como se davam as relações interpessoais, com registro das informações em um diário de campo, e entrevistas com 18 pessoas, perante consentimento prévio. Do conví- vio entre os homens privados de liberdade, bem como do compartilhamento de experiências alegres e tristes no contexto institucionalizado, emergiu um campo de mútua afetação, trocas dialógicas e afetivo-cognitivas relevantes à construção do Self. Como o compartilhamento intersubjetivo nunca é pleno, a pesquisa nos permitiu compreender como a pessoas podem conduzir seu curso de ação em direção a um afastamento pessoal nas relações interpessoais e institucionais, fortalecendo atitudes autorreflexivas não verbalizadas.