Economia moral e modelos de atenção no cuidado com gestantes que usam crack

Abstract

RESUMO Este artigo resultou de uma pesquisa etnográfica sobre a atenção a gestantes que usam crack, tomando como fio analítico-conceitual a noção de economia moral. A etnografia foi realizada em dois serviços públicos de saúde (Hospital e Consultório na Rua). Visou-se analisar uma das dimensões que conformam a economia moral, os elementos referentes aos modelos de atenção e como esses são enfatizados e atualizados nos serviços. Percebeu-se que elementos dos modelos, ao serem acionados nos serviços, influenciam as práticas de cuidado, refletindo na percepção e posicionamento das equipes diante da relação com as gestantes, bem como do tratamento e direitos delas e de seus bebês.

Tratamento de mulheres usuárias de crack: Uma análise a partir da literatura

“…A desintoxicação foi mencionada como a retomada da consciência que permite escolher o "viver saudável" (Pavanatto et al, 2015). Desta forma, a não adesão ao tratamento é considerada desinteresse em cuidar de si e que resulta de um processo de passividade de um sujeito que se deixou dominar pela droga e que acarretará em consequências na sua relação com o serviço de saúde (Macedo & Machado, 2016). E o cuidado lúdico foi descrito como ferramenta produtora de um ambiente acolhedor, de vínculo e que conscientiza sobre a necessidade da hospitalização (Pavanatto et al, 2015).…”

A (In)Visibilidade de Mulheres Usuárias de Álcool e Outras Drogas em um CAPS AD III

“…Importa neste estudo ressaltar sobre a necessidade de uma atenção às questões que atravessam o cotidiano da mulher. Porém, percebe-se na literatura a presença de modelos de tratamento e reabilitação, muitas vezes, sustentados por uma visão biológica das problemáticas referentes ao uso abusivo de drogas (Macedo & Machado, 2016), inviabilizando a incorporação de discussões sobre gênero no campo da saúde mental. Nesta perspectiva, a maior parte de prescrições de psicotrópicos distribuídas às mulheres usuárias de drogas, corresponde a lógica assistencialista e normatizadora a elas atribuídas, da mesma forma que inviabiliza as especificidades que constituem sua subjetividade (Oliveira, Paiva & Valente, 2006;Santos, 2009;Prado & Queiroz, 2012).…”

“…Considerando esses atravessamentos, fez-se necessário a construção de reconhecimento, que valorize os diferentes contextos e enfrentamentos da população feminina (Nóbrega & Oliveira, 2005;Prado & Queiroz, 2012;Macedo & Machado, 2016).…”

“…Esta atenção no território aproxima diversas gestantes usuárias de crack de alguns atendimentos técnicos ofertados pelo Consultório na Rua, do mesmo modo que permite aos profissionais a compreensão do contexto de vida destas mulheres e suas problemáticas, descentralizando, nesse momento, o consumo da droga. Além disso, o cuidado visa a integralidade, proporcionando à equipe um novo olhar sobre as diferentes realidades e uma oportunidade de repensar estratégias que sejam significativas para esta população (Macedo & Machado, 2016).…”

O atendimento à saúde das mulheres usuárias de crack e de seus filhos recém-nascidos na Maternidade de um Hospital Universitário do Rio Grande do Sul (Health care for women who use crack and their newborn children in the Maternity Ward of a University...)

“…Mais especificamente, o uso do crack por mulheres relacionado à qualidade de ser mãe ainda é um tema pouco explorado pela ciência. Estudos apontam as dificuldades/barreiras de acesso das mulheres usuárias de drogas aos serviços de saúde (BOLZAN, 2015;RAMIRO et al, 2018), os riscos do uso de drogas para a saúde materna e fetal (COHEN;OSORIO;PAGE, 2017;RAYBURN, 2007), a relação entre o ser mãe e o uso de drogas (RIOS, 2017), as vulnerabilidades presentes na vida das mulheres usuárias de crack (PORTO et al, 2018), mas poucos tratam da forma como essas são atendidas quando efetivamente acessam os serviços de saúde (BOLZAN, 2015;MACEDO;MACHADO, 2016).…”