Desvendando barreiras de gênero no acesso de adolescentes à informação sobre saúde sexual e reprodutiva na Venezuela

Abstract

Resumo: O objetivo foi analisar os discursos de adolescentes e profissionais de saúde em um estado da Venezuela acerca do acesso desta população à informação sobre saúde sexual e reprodutiva. Realizaram-se 12 entrevistas com adolescentes e 12 com profissionais, trabalhadas com a Análise de Discurso Crítica de Fairclough. Os resultados estruturaram-se em 3 temas: desigualdades de gênero; estratégias utilizadas pelos adolescentes e dificuldades dos serviços de saúde. Nos argumentos identificados, observa-se que a cultura das famílias matricentradas limita o acesso das meninas à informação sobre saúde sexual. Das meninas e dos adolescentes homossexuais, exige-se maior esforço no acesso à informação. Ambos os grupos procuram serviços fora de sua área de residência por temor à família ou por não confiar no sigilo profissional. As fontes privilegiadas pelos adolescentes para obter informação são: amigos e Internet. Um dos principais desafios é reconhecer os dispositivos institucionais que atuam na sociedade venezuelana, com maior força nas relações de poder na família, na escola e serviços de saúde. Tais barreiras reforçam o sexual double standard, perpetuando modelos de dominação patriarcal. Sua naturalização possibilita uma reprodução silenciosa de crenças/atitudes, provocando desigualdades de gênero no acesso aos serviços de saúde. As mudanças na prestação dos serviços oferecidos para adolescentes envolveriam renegociação das posições subjetivas tradicionais na interação profissional-usuário e desconstrução das relações de poder. É com participação de novas gerações de adolescentes, profissionais, pais, professores, produzindo discursos e normas de gênero mais equitativas, que possíveis mudanças serão engendradas.

Relato de experiência: desenvolvendo criativamente saberes e sentidos para debater sexualidade e gênero

“…O que corrobora com o estudo realizado por Araújo, Rocha e Armond (2008), em que os adolescentes viam o grupo como uma maneira de poder expor e aprender com os conhecimentos de seus semelhantes, o que os leva realmente a participarem do grupo e gostarem de estar ali. O grupo, também, foi importante, pois proporcionou um espaço, principalmente na rede pública, de debate para questões de gênero, o que é algo que possibilita uma melhora na qualidade de vida dos participantes, evitando problemas de saúde, relacionamentos e aprendizado (BADR, 2017; PIGOZI, MACHADO, 2020; HEREDIA-MARTINEZ; ARTMANN; NASCIMENTO, 2020) No que diz respeito ao lúdico, este estimula e facilita o processo de aprendizagem, além de melhorar a autoestima e explorar a criatividade, proporcionando uma manifestação das angústias, paixões, alegrias e tristezas (AMORA; BARRETO, 2018). Tal ideia foi vista com clareza durante as produções realizadas pelas meninas, que a partir do lúdico aprenderam, utilizaram suas habilidades criativas e expressaram o que tinham de mais íntimo.…”

Informações sobre sexo e sexualidade na adolescência: uma barreira a ser vencida

“…7 Estudo realizado na Venezuela com adolescentes e profissionais da saúde explica que "a cultura das famílias matricentradas limita o acesso das meninas à informação sobre saúde sexual", 8:1 as quais recorrem aos amigos e à internet para obterem informações sobre o tema. 8 Estudo realizado por 300 pesquisadores em países de baixa e média renda representativos das regiões geográficas dos continentes identificou sete prioridades em pesquisa na saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, sendo: i) saúde materna; ii) contracepção; iii) planejamento familiar; iv) violência de gênero; v) tratamento e cuidados a pessoas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV); vi) aborto; e vii) serviços de diagnóstico e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (IST).…”