Florestan Fernandes e a teoria da revolução burguesa no Brasil

Abstract

Resumo: Este artigo se propõe a examinar, na oportunidade do centenário de nascimento (1920) e de 45 anos de publicação de A revolução burguesa no Brasil (1975), a originalidade da interpretação de Brasil esboçada por Florestan Fernandes, especialmente em categorias como “ordem social”, essencial para compreender nosso passado e para esboçar novos grandes painéis interpretativos de processo e de história. Para entender essa complexa trama, é fundamental mergulhar no particularíssimo método de investigação e exposição do autor, bem como confrontá-lo com sua vivência e formação na época do Brasil pós-1930 até a conjuntura de publicação do livro.

A educação omnilateral na sociologia de Florestan Fernandes

“…Florestan aplica, ao processo de desenvolvimento da sociologia no Brasil, sua análise sóciohistórica que, apesar de ser mais explícita em trabalhos mais estudados (SOARES, 2016;FERNANDES, 2005;2008a), não deixa de ser evidente ao tratar da constituição deste campo.…”

“…Por último, vale ressaltar que Florestan evidencia que, em sociedades cuja gramática política -no sentido apresentado por Nunes (2004) -é fortemente influenciada pelos costumes e pela tradição, a sociologia encontra dificuldades de reconhecimento social de sua importância científica e humanista (FERNANDES, 1958;1980b). Essa equação é relevante para pensarmos o quanto, tratando-se de frações elitistas alinhadas ao (ultra)conservadorismo (FERNANDES, 2005), os ataques à formação humana crítica, histórica e complexa, se tornam mais comuns. Isso também pode ser um indício da instabilidade enfrentada pelas ciências humanas 5 -em especial, a sociologia -, como conhecimento indispensável à formação cidadã integrada aos currículos escolares e universitários e que, como se pode evidenciar, sofreu muitos dos documentados ataques em momentos de virada ditatorial e/ou ultraconservadora (FERNANDES, 1976;1980a;1980b).…”

“…A educação, como uma das principais, encontra-se afetada através de uma relação de subordinação que, entre outros fatores, negligencia a condição humana em prol da lógica associada de propriedade e acumulação. Assim, Florestan entende que as forças conservantistas que não desejam um campo humanista crítico e inconformado com as desigualdades (FERNANDES, 1980a) são, na verdade, a mais clara evidência da existência de uma gramática política (NUNES, 2004) que, na busca pela operacionalização de seus interesses, encontra na apropriação do aparelho estatal -via formalismo democrático (FERNANDES, 2011) -, o caminho de conciliar protagonismo interno com marginalidade externa (FERNANDES, 2005).…”

“…Florestan Fernandes encontra-se entre os grandes expoentes das Ciências Sociais no Brasil e América Latina, sendo reconhecido por sua produção acadêmica com contribuições para os estudos das relações étnico-raciais (FERNANDES, 2008a), antropológicos e etnológicos (FERNANDES, 1958;1963;2006;, sociológicos e políticos (FERNANDES, 2005;2010; e, além de tangenciar outros campos, possui importante contribuição para a sociologia da educação que o legou destaque na história do pensamento educacional (MAZZA, 2003;OLIVEIRA, 2010).…”

“…Como intelectual assumidamente socialista e marxista (FERNANDES, 1976;1989;2005), Florestan ultrapassou o campo acadêmico e participou de greves, sindicados de professores e manifestações em defesa da educação pública assumindo uma postura de comprometimento com as demandas sociais no estilo mannheimiano (MAZUCATO, 2014). Neste sentido, buscou aliar reflexãoação-reflexão como proposta de produção de teoria social (FERNANDES, 1976) e, também, de uma práxis pedagógica politicamente comprometida em combater as estruturas sociais de exclusão que, entre outras esferas, manifestam-se historicamente no Brasil através da educação.…”