Escrevo este agradecimento dia 24 de agosto de 2023, quando minha tia avó Menininha, 94 anos, fez sua passagem para o mundo invisível, em São Bernardo do Campo/SP. Nascida Severina Gomes da Silva, quando Sanharó ainda era Pesqueira, tia Menininha foi fonte de amor e aconchego para meu pai, minhas tias e tios -que viram sua mãe, Maria do Carmo da Silva, partir aos 54 anos.Menininha guardou e nos transmitiu a história de nossa "raiz" -como ela mesmo dizia -e manteve a tradição da viagem de volta ao Sítio das Moças, após a migração para a Grande São Paulo. Graças à Menininha e aos meus primos queridos, em Sanharó, conheci a tia Quitéria Bezerra, 99 anos. Ela ainda vive no Sítio das Moças e compartilhou com mais detalhe a história de nossas antigas. Sou grato pela existência de vocês, aqui e sempre. Sou grato ao meu avô materno Neomar Dias Frascaroli, hoje encantado, por cultivar em mim e seus netos a atenção e o respeito às tradições orais, à história e ao território de meus ancestrais maternos e paternos. Sou grato ao meu pai, Gilberto, e à minha mãe, Rosani, por esse amor e cuidado que alimenta e sustenta nossas comunidades. Sou grato à parentada Quixelô que confiou comigo suas histórias, as alegrias e as dores de sermos quem somos. Vibro que este trabalho possa colaborar para o reconhecimento destas lindas e combativas (re)existências que presenciei nestes anos. Sou grato aos troncos velhos de Ororubá, em nome do Pajé Zequinha e do Cacique Mandaru: guerreiros que, ao retomar o centro do território Xukuru, criam perspectiva de outro mundo para aqueles que atendem ao chamado da Natureza Sagrada. Sou grato a Dezinho Jorge e toda família Jorge, que me acolheu desde a minha primeira viagem à Serra do Ororubá. A benção à Adelson e Lurdinha, meu pai e minha mãe nas Matas Sagradas -e à toda nossa família na Jurema. A benção mestre Alcides de Lima, a benção mestre Durval do Coco e meus camaradas do CEACA: "Maior é Deus, pequeno sou eu. O que eu tenho foi Deus quem me deu"! "Ele não vai ser enterrado, ele não vai ser sepultado. Ele vai ser plantado, para que dele nasçam novos guerreiros" Zenilda Xukuru RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo investigar os modos de (re)existir nos movimentos e coletivos indígenas Quixelô, de modo a identificar conexões e emaranhados entre as existências de um Sertão indígena Quixelô, mediante escuta e transcrição das narrativas e experiências de pessoas presentes nestes coletivos e movimentos. A pesquisa descreve as existências que compõem estes movimentos e coletivos pressupondo que, mesmo partindo de experiências pessoais, estes movimentos são realizados na conexão com outros seres, em redes e agências coletivas, que sustentem a autodeterminação de suas indianidades. O trabalho averigua a hipótese de que as diferentes existências e forças agenciadas pelas narrativas colaboram para a percepção que cada interlocutor tem do significado de seu movimentosentido que, por vezes, será possível entrever nas palavras (re)existência, resgate ou retomada. A investigação foi realizada por meio de uma a...