Entre a prática, a teoria, a escrita e a experimentação etnográficas

Abstract

A entrevista que se segue foi realizada no dia 11 de março de 2020, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. No dia anterior, o presidente Donald Trump havia reconhecido o status de pandemia de COVID-19 e a quantidade crescente de casos nos Estados Unidos. Enquanto isso, eu estava nos últimos dias de um intercâmbio intelectual de 10 meses (entre maio de 2019 e março de 2020), financiado pela Fapesp, no qual fui supervisionada pelo professor Michael Taussig 1 . A ideia para esta entrevista surgiu de uma conjunção de fatores, mas especialmente do canal de diálogo aberto com o professor Taussig nos meses anteriores.A iniciativa de ir para a Columbia University (e para o Institute of Latin American Studies -ILAS) surgiu pelo encantamento com a obra de Taussig. Suas proposições sobre violência e terror me acompanham já há alguns anos, com destaque para o que ele chamou, em Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem, de "cultura do terror" e "espaço da morte". Ao me dedicar ao entendimento das formas públicas e privadas de violência em favelas do Rio de Janeiro, estes dois conceitos se tornaram fundamentais para as análises empreendidas.A obra de Taussig me fascinava também por outros motivos. Destaco, sobretudo, a inventividade e o caráter transgressor de suas propostas que fornecem insights teóricos e metodológicos. Sobretudo, Taussig nos provoca a experimentar etnograficamente, ao mesmo tempo em que mostra a importância de discussões teóricas densas. Sempre li suas obras como repletas do que chamei na entrevista de "amor e deferência pela curiosidade antropológica".A seu convite, acompanhei, entre setembro e dezembro de 2019, o curso "Taboo and Transgression", que ofereceu no departamento de Antropologia da Columbia University. A experiência de vê-lo lecionar tornou ainda mais instigante o esforço de embarcar em suas propostas e foi algo que iluminou a feitura desta entrevista,

In Search of Hope: Reimagining the “Dark” in Latin American Marxian Ethnographies

“…However, these readings of Taussig's ethnographies fail to account for cultural difference as alterity, which happens to be so because the implicit narrative structure shared by these readers departs from a conception of anthropology as a realist, objective, and human science dedicated to represent the "other" to a Westernized "Self." Coronil and Fausto, alongside Leal (2014), Rebuzzi (2015), and Parreiras (2020), all agree on the efficacy of Taussig's narratives to represent the counterlogics of people either not yet fully subjected to capitalism (as they appear in Devil) or who became extremely victimized by it (as in Shamanism). Under such readings, the "devil pact" in the first ethnography and the "shamanistic healing" in the second are figurative beliefs that stand as precapitalist "others," and as such, the readers of Taussig's works consider his ethnographies of the beliefs and rituals of Latin American peasants, miners, enslaved indigenous peoples, and shamans as descriptively "thin" but aesthetically "thick.…”

“…8 For this review, I focus only on his earliest publications and depart from interviews and reviews of only two of his works. 9 I follow Gross (1983), Fausto (1988, Leal (2014), Rebuzzi (2015), and Parreiras (2020). I also address an additional review, Coronil's (1996), but the idea is not to present a comparative perspective or to essentialize a "Latin American perspective" to the detriment of other readings and critiques of his work.…”

“…Taussig develops his insights focusing on the initiation processes of becoming a shaman, or better put, a healer, which is a way of learning how to walk in the "space of death." This is a powerful message of hope brought forward by this ethnography through the paths of shamanism in Colombia: in order to heal, one must become a healer, and according to Taussig, that is a process mimicry implicit in his shamanistic style of ethnographic writing (see Parreiras 2020).…”