Até duas décadas atrás, numerosos hábitos e comportamentos eram tidos como corriqueiros e sequer despertavam interesse entre os profissionais de saúde; entre eles, o tabagismo, que era considerado "um vício elegante".Filmes clássicos, até os anos 1970, exibiam personagens (homens e mulheres) fumando voluptuosamente, em cenas mais dramáticas.À exceção do alcoolismo e das chamadas "drogas pesadas", praticamente não existiam pesquisas sobre dependências. Tal panorama mudou radicalmente e, como dizem os autores desse livro, hoje "o tabagismo constitui grave problema de saúde pública em todo o mundo".Lenta e progressivamente, patologias respiratórias, vasculares, oncológicas e muitas outras foram sendo relacionadas ao tabagismo que, de elegante, vai se tornando inimigo público em vários países.É verdade que o tabagismo não é indutor de crimes ou condutas anti-sociais, como sói acontecer com o álcool e outras substâncias psicoativas.Ele é letal, sobretudo, para o dependente. Essa particularidade talvez explique por que tão poucos livros são dedicados ao assunto.Na literatura médica especializada, é imenso o nú-mero de artigos, de todas as especialidades, apontando o tabagismo como fator principal de muitas patologias; contudo, pouco se publica sobre o tabagismo em si, seus mecanismos e tratamentos possíveis.Por outro lado, convive-se com um grande paradoxo: se, em muitos lugares, o tabagismo vem sendo encarado como inimigo visceral -em todos os sentidos -em diversos países postula-se a descriminalização das "drogas pesadas" a pretexto de facilitar o controle governamental, reduzir o tráfico e a criminalidade conexa.O argumento é falacioso: produtos absolutamente legais, como pedras preciosas ou petróleo, têm mercados paralelos e alimentam redes subterrâneas de tráfico, ensejando crimes comuns e, sobretudo, poderosa corrupção em altas esferas governamentais de países importantes, longe da alçada do aparelho policial ordinário. Da experiência brasileira, basta lembrar o contrabando de uísque e cigarros "paraguaios" ou dos brinquedos e Tabagismo: dos fundamentos ao tratamento -Focchi G.R.A., Malbergier A., Ferreira M.P. Lemos Editorial, São Paulo, 2006 zaCaria borge ali ramadam Professor-associado do
A relação médico-paciente é disciplina obrigatória em todas as melhores faculdades de medicina do mundo, objetivando habilitar o futuro médico a ter um desempenho satisfatório e pertinente com os enfermos, de modo a reforçar a tarefa terapêutica através de uma relação segura, confiável e positiva.Centenas de obras de autores médicos foram publicadas a respeito, sob o enfoque desses profissionais.Outras tantas, escritas por pacientes, quase todas no plano da literatura ficcional, muitas delas geniais, refletem particularidades, ressentimentos, frustrações emocionais e outras distorções quase caricatas, ora dos médicos, ora dos pacientes, seja superdimensionando uma ou outra, não contribuem para uma adequada avaliação do problema.Esta obra, produzida por um respeitado intelectual de grande erudição, que, durante muitos anos foi paciente e dependeu de orientações médicas das mais diversas, surpreende pelo seu equilíbrio e ponderação.Inicia-se com o depoimento de vários professores de medicina das mais importantes universidades do País a respeito do assunto, quase todos manifestando insatisfação ou desconforto a respeito. Segue-se uma exaustiva revisão, desde os procedimentos mágicos xamanísticos da pré-história, passando pela medicina hipocrática e galênica, com a instauração dos modelos racionais na medicina, através de Vesalius, Falopius e outros luminares; adentra nas questões da linguagem e comunicação, nos aspectos psicológicos, psicanalíticos e também discute personagens clássicos da literatura de ficção. Os títulos dos capítulos são bastante sugestivos da profundidade com que o tema é tratado: "A escalada do homem"; "A tableteca de Assurbanipal"; "Asclépios e a compaixão"; "Hipócrates e a razão"; "Galeno e o determinismo divino"; "Cristianismo e retrocesso"; "Paracelso e a devoção"; "Vesálio e a reinvenção do corpo"; "O nascimento do paciente"; "Comunicação, o problema"; "O pa-ciente médico"; "Confortar, escutar, olhar, tocar"; "Envolver-se ou não, eis a questão"; "Medicalização da vida e bioética"; "A morte no horizonte". O autor oferece resultados de sua pesquisa informal com numerosos outros pacientes, sobre suas expectativas em relação à figura do médico, e complementa sua obra com um apêndice que reproduz o código de ética médica. O livro, publicado em dezembro de 2002, resultado de muita pesquisa e informação bibliográ-fica, é leitura indispensável para todos os médicos e estudantes de medicina.O médico e o paciente: breve história de uma relação delicada
Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a prá-tica de psicoterapia breve requer muito boa formação, exaustivo treinamento e experiência do psicoterapeuta.Freud, como pioneiro que foi, chegou a fazer algumas análises curtas de uns poucos pacientes, sobretudo ricos e famosos que, não residentes em Viena, lá permaneciam por breves temporadas, atraídos pelo prestígio e carisma do criador da Psicanálise.Embora tenha, no princípio, apoiado iniciativas de alguns discípulos, como Rank e Ferenczi, no sentido de abreviar o processo analítico, o velho mestre, porém, nunca foi entusiasta desse tipo de trabalho, mostrando-se reservado e cético em relação a seus resultados.É que, se por um lado a psicoterapia breve busca atender a pressões e demandas dos pacientes (sobretudo e, mais do que nunca, nos tempos atuais), por outro lado, a economia de tempo -e dinheiro -colide com alguns dos mais sólidos pilares do edifício psicanalítico.Basta lembrar que um dos pontos mais polêmicos entre os psicanalistas ortodoxos e Jacques Lacan -que se tornou dissidente -foi sua proposta de modificar a duração (geralmente encurtando) das sessões de análise.Com efeito, abreviar as sessões, e o número delas, significa introduzir uma pressão externa no processo de livre-associação e no fluxo natural do tempo interior do paciente. Afunilando o processo, é preciso que o analista seja muito experiente e sagaz para delimitar o foco, bem como adequar o momento e o conteúdo de suas intervenções. Sem tais cautelas, a psicoterapia pode tornar-se uma psicopedagogia de senso comum repleta de estereótipos e jargões psicologizantes, ou mesmo um processo de sugestão explícita, em que o paciente não elabora seus conflitos, não ganha autonomia, nem amadurece.Por esses e muitos outros motivos técnicos e teóri-cos, os psicanalistas que trabalham com psicoterapia breve, cautelosamente, em geral, designam essa atividade como "psicoterapia psicodinâmica", indicando assim que, mesmo baseados na teoria, reservam o adjetivo "psicanalítico" para práticas mais ortodoxas.No caso em pauta, o livro Psicoterapia psicanalítica breve revela, pelo título, que o autor não receia ser acusado de heresia, embora não seja o primeiro a usar tal expressão.Prof. Lowenkron é altamente qualificado: além de membro efetivo da Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro, é livre-docente e professor adjunto de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFRJ, além de professor de Pós-Graduação Stricto Sensu da mesma Universidade. O livro originou-se de sua tese de doutorado, sob orientação de Prof. E. Portella Nunes, também psiquiatra e psicanalista, professor emérito daquela Universidade.A obra foi bem acolhida pelo público interessado, porém suscita alguns comentários: a primeira parte (154 páginas) constitui uma extensa revisão histórica e atualização do tema, feita com profundidade e consistência, analisando os melhores e mais importantes textos publicados sobre o assunto, desde os primeiros escritos de Freud. Entretanto, apenas citou, em três parágrafos, alguns autor...
A Brief History of Anxiety DisordersTáki Athanássios Cordas, Lemos Editorial, São Paulo, 2004 O autor divide os quadros ansiosos dentro da nosologia atual e tenta apresentar o desenvolvimento histórico dos atuais conceitos de transtorno obsessivocompulsivo, transtornos de estresse pós-traumático, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social.Partindo da peça "O doente imaginário", de Moliére, o autor apresenta também um breve histórico do conceito de hipocondria.Um outro conceito antigo, o de neurastenia, é visitado desde sua presença na poesia de Florbela Espanca, passando pelos foxtrote dos anos 1950 e por trechos relacionados com o tema, de Franco da Rocha a Henrique Roxo.Pierre Janet, um autor freqüentemente esquecido dentro do desenvolvimento do conceito de neurose, é relembrado e destacada sua importância.Baseia-se em 74 excelentes referências bibliográficas e foi escrito com igual esmero do anterior, com estilo quase coloquial, agradável à leitura.Este livro merece, porém, um reparo: ao final, na página 100, interrompe o relato biográfico de "Anna O" (Bertha Pappenheim), no ano de 1887, afirmando que ainda estaria enferma naquela data.Contudo, biógrafos confiáveis (entre eles H. Ellenberger) registram que Anna O. (Bertha) viveu mais de 50 anos após o tratamento com Breuer e morreu em 1936, três anos antes de Freud. Após a perda do pai, em 1881, junto com a mãe, mudou-se de Viena para Frankfurt.Tudo indica que se recuperou dos transtornos psíquicos, pois se dedicou inteiramente a atividades sociais e humanitárias: dirigiu um orfanato em Frankfurt, viajou pelos Bálcãs, Rússia e Oriente Médio, combatendo a prostituição e o tráfico de mulheres, fundou a "Liga das mulheres judias" e foi pioneira aguerrida na defesa dos direitos femininos.Praticava equitação, freqüentava teatros, com especial interesse pelas obras de Shakespeare, também escreveu peças teatrais curtas e ensaios sobre a condição social das mulheres judias. Graças à presença marcante e dedicação às causas sociais granjeou prestígio que extrapolou a comunidade judaica: em 1954, o Governo da Alemanha Ocidental emitiu um selo postal em sua homenagem, com sua efígie e os dizeres "Bertha Pappenheim -Helfer der Menschheit" (Benfeitora da Humanidade). Fazemos este reparo por justiça e também como homenagem à extraordinária figura humana que foi Bertha Pappenheim, sem a qual, com certeza, não teria nascido a psicanálise.Contudo, é compreensível que o livro do Prof. Táki não se tenha estendido em detalhes biográficos. Seu objetivo maior, o de apresentar a síntese de um amplo panorama histórico da ansiedade, foi realizado com êxito e maestria, capaz de cativar leitores eruditos e leigos.Táki Cordás não é historiador e chama seu livro de "uma introdução histórica". Contudo, é uma introdução magnífica, que convida o leitor inteligente a outras leituras de história e questionamentos sobre as práticas atuais da medicina.
"Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois".A contundente abertura de "O mito de Sísifo", obra magistral de Albert Camus, bem resume o desafio e a tarefa gigantesca com que se defronta o estudioso do tema, já que a consciência da finitude e da morte, suas crenças e mitos, constituem o maior diferencial entre humanos e outros seres do planeta.Esse livro, organizado e redigido por conceituados pesquisadores e professores de psiquiatria das melhores universidades brasileiras, desenvolve, em 12 capítulos, temas criteriosamente selecionados e revela uma notável maturidade científica e intelectual dos autores brasileiros, rivalizando com as melhores publicações internacionais. Em 215 páginas distribuem-se os seguintes assuntos: O comportamento suicida; Aspectos históricos do suicídio no Ocidente; Religião e comportamento suicida -a cultura da morte; Suicídio e teoria social; Aspectos psicológicos do suicídio; Epidemiologia do suicídio; Fatores de risco do suicídio; Neurobiologia do suicídio; Abordagem médica da tentativa de suicídio; Manejo das situações ligadas ao suicídio; O suicídio e sua prevenção; Suicídio assistido, eutanásia e cuidados paliativos.Os capítulos foram redigidos em estilo agradável à leitura, despojados de criptogramas e cacoetes tecno-científicos, com informações copiosas e atualizadas, raramente encontradas em obras similares.Além do rigor e do espírito crítico presentes em todos os capítulos, devese destacar o percurso pelas múltiplas vertentes doutrinárias, culturais e artísticas que interferem e se intercalam nos comportamentos suicidas. A obra extrapola o campo da psiquiatria, passando pela psicologia, antropologia, literatura, história, religião e outros aspectos adjacentes ao suicídio.Cabe ressaltar a exaustiva e preciosa revisão bibliográfica que acompanha todos os capítulos, abrangendo todas as obras clássicas sobre o assunto, bem como os mais importantes e recentes artigos dos mais conceituados periódicos internacionais. O prefácio, redigido pelo Professor Wagner Farid Gattaz, Professor Titular de Psiquiatria da FMUSP, é um selo de garantia do valor da publicação, capaz de satisfazer os leitores mais exigentes e bem informados.Nos últimos anos, raras são as monografias elaboradas com tanta abrangência e tal quantidade de informações. Pela consistência e seriedade, situa-se entre as melhores já publicadas nos países do Primeiro Mundo. Se tivesse uma versão em inglês, seria, certamente, referência internacional.
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