Esse trabalho pretende analisar o conto "Os "Desastres de Sofia", de Clarice Lispector, utilizando-se o instrumental da Psicanálise e da Estilística. Considerando-se que se trata de uma narrativa confessional, em que sujeito e objeto se confundem, a leitura proposta mostra de que maneira memória e ficção estão interrelacionadas na construção do texto, trazendo o inconsciente como material privilegiado da criação literária. As personagens são entendidas no interior de um campo de projeções e identificações, resultando daí uma descoberta surpreendente: a protagonista adolescente se descobre escritora, à sua própria revelia, em meio aos jogos sádicos com o seu professor.
O presente estudo aborda o texto "Mineirinho", de Clarice Lispector, buscando a partir dele depreender uma visão da constituição do sujeito à luz de alguns aspectos da psicanálise. A leitura analítico-interpretativa identifica os procedimentos estilísticos e temáticos que alicerçam o texto, desvendando suas implicações éticas e estéticas. Ao comentar a morte de um bandido pela polícia carioca nos anos 1960, a autora põe em xeque afirmações ideológicas tidas como inequívocas e subverte categorias políticas e sociais que se querem absolutas. No horizonte da interpretação proposta, o texto problematiza, ainda, as noções de normalidade e loucura, bem como as relações entre história social e trajetória individual.
Resumo: Este estudo pretende analisar o conto “Famigerado”, de Guimarães Rosa, à luz das Formas Simples, de André Jolles, e da psicanálise. O texto é lido como uma adivinha às avessas, invertendo as posições do inquiridor e do questionado. Tendo como fundo a modernização do sertão nos anos 60, o embate entre o letrado e o jagunço revela tensões e ambigüidades, abordadas pela estilística e pela psicanálise.Palavras-chave: conto brasileiro; Guimarães Rosa; adivinha; ambigudade; Psicanálise.Abstract: This study analyses “Famigerado”, a short story by Guimarães Rosa, taking Simple Forms, by André Jolles, and psychoanalysis as theoretical references. Rosa’s story is seen as an inverted riddle, by which questioner and answerer switch positions. The modernization process in Brazil’s hinterland during the 60s provides a framework to the conflict between the story’s hero, an illiterate “jagunço”, and its learned narrator. The tensions and ambiguities thus revealed can find in psychoanalysis and stylistics a source of enlightenment.Keywords: Brazilian Short-Story; Guimarães Rosa; riddle; ambiguity; Psychoanalysis.
This article approaches the territory of madness and unreason in Lispector’s fiction, an aspect of her work that is present in her press contributions “Das doçuras de Deus” (16 Dec. 1967), “Sem nosso sentido humano” (28 Jun. 1969), “Loucura diferente” (8 Dec. 1970), and “Lucidez perigosa” (2 May 1972). None of these texts became an autonomous short story or novel, as happened with many others originally published in Jornal do Brasil between 1967 and 1973. This study examines these four texts with a view to grasping a Claricean poetics, as it is represented through extreme perceptions of madness and unreason. I consider these texts as pre-figurations or instances of contact with motives such as freedom, adaptation, fear and habit. The texts examined here are shown to defy hegemonic rationality while pointing to the limits of discursive language.
O presente artigo pretende analisar o conto "A menor mulher do mundo", de Clarice Lispector, à luz do ensaio "O estranho", de Freud. A ideia é compreender as relações de dominação que se estabelecem entre um explorador francês e sua insólita descoberta na África Equatorial: uma pigmeia grávida. Partindo desse jogo de alteridades, que se estranham e se identificam, a análise buscará desvelar algumas camadas de sentido tendo como pano de fundo a dinâmica entre cultura e pulsão, recalque e desejo. A história dos processos coloniais brasileiros e a história da constituição do sujeito humano se entrecruzam nessa narrativa, que desloca formas habituais de posicionar o eu diante do outro. O efeito irônico do texto se dá ao inverter as expectativas nesse encontro entre a ordem selvagem e a ordem doméstica, descortinando nesta última reações perversas imprevistas. Universidade de São PauloClarice Lispector, unheimliche, alteridades, cultura. Abstract Resumo Palavras-chave
enedito nunes é um tesouro nacional guardado na amazônia há décadas", diz Leyla Perrone-Moisés no prefácio ao volume A clave do poético, que reúne ensaios já consagrados e outros inéditos do crítico paraense, ao longo de mais de quarenta anos de produção. essa riqueza toda, síntese de uma assombrosa erudição e de um luminoso pensamento -que aproximou a crítica literária brasileira de suas raízes filosófi-cas -, habita "o menos provinciano dos intelectuais", como prossegue PerroneMoisés.a despeito de sua morada distante dos centros culturais hegemônicos, Benedito nunes é um pensador atento, entre outros aspectos, às inserções de obras e autores nacionais e estrangeiros aos grandes contextos histórico-culturais a que devem sua emergência. essa marca cosmopolita do autor de obras referenciais, como Introdução à filosofia da arte (1967) e Passagem para o poético: filosofia e poesia em Heidegger (1986), ressalta, do início ao fim, para o leitor desses ensaios. nenhum escritor, nenhum texto se apresenta isolado da linhagem maior a que pertence, da geração de seus antecessores e do tempo que o engendrou. o autorretrato do crítico, no ensaio de abertura "Meu caminho na crítica", explicita esse traço: "o meu interesse intelectual não nasce nem acaba no campo da crítica literária. amplificado à compreensão das obras de arte, incluindo as literárias, é também coextensivo, em conjunto, à interpretação da cultura e à explicação da natureza". e conclui: "um interesse tão reflexivo quanto abrangente, é, portanto, mais filosófico do que apenas literário" (p.23).seu interesse pelas "filosofias de viés literário", como ele denomina -Heidegger, sartre e Merleau-Ponty -, bem como pelos românticos alemães que uniram poesia à filosofia, constitui a base de um olhar crítico que soube dinamizar contrá-rios aparentes como imagem e ideia, percepção e conceito. Munido, portanto, da consciência de que "não há crítica literá-ria sem perspectiva filosófica", Benedito nunes se debruça sobre as obras com a paixão dos amantes e a precisão detalhista dos exegetas.assim instrumentalizado -o que nada seria sem a aguda intuição de alguém vocacionado para apreender os sentidos essenciais -, nunes parece inclinar-se, na transversalidade desses ensaios tão diversos, para as grandes temáticas metafísicas: a Morte, o tempo, a História, a não História e, sobretudo, o Mito e a Mística. Mas aqui vale o alerta da prefaciadora: "como filósofo contemporâneo da crise da metafísica, leitor de nietzsche, Heidegger e Wittgenstein, ele não busca, na literatura, a verdade, mas verdades no plural, ou melhor, diferentes maneiras de dizer e compensar a perda da verdade" (p.18). de todo modo, o que surpreende na escrita e na reflexão de nunes é a sua perspectiva unificadora e totalizante das múltiplas faces de um real sempre avesso ao deciframento. Movido por um desejo de saber, provindo de sua vertente filosó-fica, e de um desejo de dizer, que é sua contraface poética, o ensaísta octogenário não recua ante a opacidade das palavras. aceitando o limite do indizível, co...
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