Nogueira tornou-se internacionalmente conhecido por um pequeno trabalho apresentado no XXXI Congresso Internacional de Americanistas, realizado em São Paulo, em agosto de 1954: "Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem -sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil". O trabalho (Nogueira, 1985(Nogueira, [1954) transformou-se, rapidamente, numa referência obrigatória para os estudos de relações raciais, mas serviu também de síntese erudita da dicotomia entre o Brasil e os Estados Unidos, em termos das relações entre brancos e negros. Era o ingrato destino de uma reflexão, que fora apropriada por uma política identitária nacionalista que buscava, a todo custo, firmar o caráter "democráti-co" e "brando" das relações raciais no Brasil, em contraste com o resto do mundo, notadamente os Estados Unidos. A síntese de Oracy Nogueira era, sem dúvida, muito mais complexa e muito mais inovadora do que o entorno político de então deixava perceber.Em primeiro lugar, porque era fruto de um longo trabalho de investigação sociológica que o autor conduzira em Itapetininga (SP), cujo relatório de pesquisa seria publicado, parcialmente, pouco depois, no volume organizado por Roger Bastide e Florestan Fernandes (1955), que integrou o ciclo de estudos da Unesco.Em segundo lugar, porque tal investigação fora bastante inovadora, tanto em termos metodológicos, quanto em termos interpretativos. Em termos metodológicos, o estudo de comunidade, instrumento com que a Sociologia nasceu entre nós, largamente influenciada pelos desdobramentos da escola de Chicago (Eufrásio, 1999; Vila Nova, 1998), fora enriquecido pela investigação histórica das relações entre brancos e negros durante a escravidão. Em termos interpretativos, porque Nogueira, desafiando as lições de Herbert Blumer (1939 e 1958 Pierson (1971Pierson ( [1942), teorizava uma forma nova de preconceito racial, presente em sociedades como o Brasil.e de seu mestre DonaldEsta pérola sociológica, elo insubstituível do desenvolvimento dos estudos de relações raciais e de sociologia brasileiros, recebeu, finalmente, sua primeira e há muito merecida edição em livro no ano passado, 1998, pelas mãos de Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, que organizou e anotou os originais, introduzindo-nos o estudo e restituindo-lhe o nome original: Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga.O título reproduz o conceito famoso que todos havíamos aprendido com Oracy, quando distingue os dois tipos básicos de preconceito racial: "Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascêndencia étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz...
O presente artigo pretende apresentar alguns resultados de uma pesquisa ainda em curso sobre os efeitos políticos e morais do atual programa de transferência de renda –Programa Bolsa Família– realizado pelo Estado brasileiro, no governo Lula, destinado às famílias muito pobres, tendo a titularidade do benefício conferida às mulheres.Para expor os traços mais marcantes de semelhante processo político de inclusão social de parte signifcativa do país, divido a narrativa em três partes. Na primeira delas, apresento breves considerações de ordem histórica para demarcar melhor a complexidade social, política e econômica que presidiram a formação da sociedade brasileira.Na segunda parte do trabalho esboço o quadro teórico conceitual que inspira, preside e orienta a pesquisa e que servirá de referência à análise sociológica dos dados empíricos do referido programa.Na terceira parte, discuto alguns aspectos da natureza da política estatal de transferência de renda, como seus dilemas e tensões constitutivos deste campo problemático que se encontra em processo de construção.
No abstract
Com referência ao cenário europeu dos anos 30 e 40 do século passado examina-se o empenho de Guido Calogero para obter uma síntese de princípios liberais e socialistas em nome da promoção da "democracia integral e da justa liberdade ".
Este artigo pretende narrar a história de um longo diálogo político e intelectual travado desde os anos de 1920 entre duas tradições políticas: a liberal socialista e a comunista italianas, que, ao se influenciarem reciprocamente, permitiram uma renovação cívica naquele país, efetuando uma interessante experiência de organização de atores democráticos na sociedade italiana do pós-guerra. A recorrência desse debate talvez explique, em parte, o fenômeno político da constituição do partido comunista italiano como o maior partido de massas do Ocidente, até há muito pouco tempo. Não há novidade alguma em dizer que este partido sempre se apresentou no cenário mundial ostentando diferenças marcantes, organizativas e políticas, em relação ao padrão comum imperante nos demais partidos comunistas da Europa Ocidental. O presente trabalho tenciona simplesmente capturar os momentos mais significativos daquela experiência.
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