RESUMO -Esse trabalho objetivou avaliar a aplicação de nanofiltração (NF) como tecnologia para tratamento e reuso de duas águas residuárias da produção de ouro: a drenagem ácida de mina (DAM) e o efluente da planta de produção de ácido sulfúrico (EF). A NF foi aplicada às águas residuárias brutas, pré-filtradas com filtro qualitativo e pré-filtradas com microfiltração, e seu desempenho foi avaliado em termos de incrustação e qualidade do efluente tratado (concentração de íons, metais, sólidos totais e condutividade elétrica). Os resultados mostraram que a filtração das duas águas residuárias estudadas não acarreta grande incrustação da membrana de NF, mesmo quando o efluente bruto, sem pré-tratamento, é utilizado. O fluxo de efluente variou entre 62 e 90% do fluxo da membrana limpa com água. As eficiências de remoção de sólidos (> 80%), condutividade (> 96%), sulfato (> 99%) e cálcio (> 99%), principais contaminantes dos efluentes, foram bastante elevadas. Observou-se que a aplicação de pré-tratamento melhora não só a eficiência global de remoção de poluentes como também o fluxo de permeado médio.
INTRODUÇÃOA mineração e o processamento de minérios a base de ouro são atividades de grande importância econômica. Devido às suas propriedades físico-químicas, o ouro tem sido empregado em diversas aplicações, que vão desde a fabricação de joias até a cobertura protetora de satélites e o uso medicinal. Por outro lado, a explotação e o processamento desse material leva a impactos ambientais que variam desde destruição de habitats naturais e consequente perda de biodiversidade até a disposição de grande quantidade de rejeito no ambiente.Um impacto relevante é a geração e o descarte da drenagem ácida de mina (DAM). De acordo com Kontopoulo (1998) e Silva (2009), a DAM resulta de uma série complexa de reações químicas envolvendo oxidação direta ou indireta dos minerais sulfetados (em geral pirita) em presença de água e oxigênio, liberando acidez e sulfato para o meio. Essa reação pode ser catalisada por cátions metálicos e bactérias, tais como Thiobacillus Ferroxidans, aumentando expressivamente a taxa de reação. Os impactos da DAM no meio ambiente incluem acidificação de águas superficiais e subterrâneas e de solos, diminuição da biodiversidade, solubilização de metais pesados, que poderão atingir o homem na cadeia alimentar através da bioacumulação e biomagnificação, geração de precipitados nos corpos d'água prejudicando a flora bentônica, entre outros (BORMA e SOARES, 2002;SILVA, 2009).